12/12/2012

RUGBY - DO LADO DE DENTRO DO CAMPO

Na época do gauchão de Rugby, em um dos jogos na Montanha, o Aldo da SulBack tinha me falado de "um jogo que a gente faz de sevens". Eu disse que fazia muitos anos que não praticava nenhuma atividade física. O Aldo respondeu que "não, é só uns caras que nem nós. Mais se empurram e caem que jogam." Pensei, "bom, tenho 41 anos e já está na hora de voltar a praticar algum esporte. Porque não tentar o Rugby?" Sei, vocês que não estão acostumado a acompanhar os jogos dirão: É um louco! Não deixo de dar um pouco de razão. Eu também pensaria assim até uns cinco anos atrás antes de começar a ser contaminado pelo vírus do Rugby. Não é só um esporte como outro qualquer. É a vida dentro de campo contada em capítulos de despreendimento, coragem e muita concentração e adrenalina.

Em junho finalmente sai do marasmo e voltei à musculação. Sou meio doido mas não o bastante pra tentar entrar em campo sem um mínimo de preparo. Pesando mais de 100kg em 1,80m, eu era um mamute, mas um mamute sem fôlego e com a força só no peso. Meu primeiro objetivo era a minha saúde, antes de tudo. Diminuí bastante as frituras, quase não como doces, a não ser chocolate amargo, e comecei a comer menos no almoço, que é a refeição que costumava patrolar. Quatro vezes por semana numa academia onde treinam jiu-jitsu, boxe e MMA, sem muita frescura, tosqueira, povo quase tão louco quanto no Rugby, só não correm atrás de uma bola. É um incentivo e tanto alguém te responder quando tu reclama da tendinite; "Não, velho. Continua que o músculo reforça e a tendinite passa." Parei uma semana por conta do ombro esquerdo que não suportava o aumento nos pesos, mas logo aprendi a manha do aquecimento de ombro com o elástico. Quando me inscrevi pra ImpedCopa, torneio de futebol 7 insano organizado pelo Impedimento, tinha baixado meu peso em quase 10 kg. Tudo isso sem largar a cerveja (o que já contribuiria expressivamente na dieta). Meu time jogou 11 vezes, jogos de 11 minutos. Eu joguei somente 6 jogos. Saí porque o time encaixou. Ou seja, minha "classe" zagueirística foi catapultada pelo bem do grupo e por um meia habilidoso. Nada mais justo.

Faltava o Rugby. Os farrapos já me convidaram muitas vezes para chegar num treino, sempre adiado por conta da distância e de tardes de sábado com o Lorenzo. Mas a vontade de pelo menos treinar e aprender nunca sumiam da minha mente. Como avisado pelo Aldo, SulBack e Farrapos organizaram um jogo exibição antes das finais da última etapa do 7's gaúcho, na Montanha em Bento Gonçalves. Mamutes do Farrapos, um time com a essência do Rugby, os gordos, ou seja, os forwards, 1ª linhas, a nata de peso envolta em jogadores, ex-jogadores e convidados do Farrapos, mais uns "fracotes", como eu, pra enfrentar o Canfora RC, um Barbarians castelhano-brasileiro com jogadores e ex-jogadores de diversos clubes gaúchos e argentinos. O bando de "velhos" como brincou o Aldo era a turminha fraca aqui debaixo. Como se vê o gringo não estava brincando quando chamou o povo pra treinar no campo do Walkirians (time do Monstro, mas isso é outra história) em Ana Rech. Era jogo pra vencer. A tática do maul de 70 metros seria colocada em prática. Esse era o mote do time, além de, claro, muita cerveja e churrasco.

Canfora - Os "velhinhos" do Aldo
Os Mamutes, o pessoal leve abaixo, não treinou nada. Quer dizer, eu não treinei. Nunca treinei com ninguém. Meu conhecimento de Rugby passava por torcer e acompanhar os jogos do Farrapos ou os jogos que passam na TV a cabo ou na Internet e correr com uma pizada de 6, 8 anos na pracinha perto da minha casa em Porto Alegre. Entrar em campo pra jogar XV ao lado de jogadores experientes, titular da seleção brasileira e muitos outros com larga bagagem, contra jogadores experimentados e inteligentes do outro lado, sem nunca ter treinado confesso que foi meio doido. Mas eu não tinha medo disso. Eu precisava jogar e, sendo pelo Farrapos, mais que uma necessidade, era um sonho. Algo me dizia que meu problema seria outro. Orientação espacial e coordenação pra acompanhar o grupo. Minha expectativa era: "Vou saber acompanhar as jogadas? Receber a bola e passar direito? Vou conseguir chegar direito num tackle? Dar assistência no ruck?" Eram muitas dúvidas concentradas em nenhuma experiência prática de jogo.

Mamutes - Scrum de uma tonelada
Antes de iniciar a partida o Tito, presidente do Farrapos, junto com os outros companheiros me deram uma aula rápida para minha estreia acontecer com segunda linha. Afinal, era um jogo-exibição, a brincadeira consistia em inverter backs e forwards. Tchê, vou te dizer, o scrum é uma máquina de guerra! Os segunda-linhas se apoiam um no outro e, cabeça enfiada entre duas bundas gordas, engancham no meio das pernas dos primeira-linhas e são prensados pela terceira linha para a frente. As orelhas saem queimando, o que me deu a resposta porque aqueles caras altões com camisas 4 e 5 usam scrumcaps. Eles têm amor pelas próprias orelhas.

Minha preparação pré-jogo foi passar duas horas tomando Fermet com Coca debaixo de um sol de 30 graus sob a orientação física e técnica de nosso treinador Leonardo Scopel, enquanto acompanhávamos os jogos de Sevens, feminino e masculinos juvenil e adulto. Não comi nada, com medo de usar o protetor bucal pela primeira vez e porquear na hora do jogo. Podem rir, mas ainda falta tempo pra aprender a correr e pensar com aquele lance na boca. Durante boa parte do jogo tirei da boca e guradei no calção. Era mai fácil pra respirar. Não é o certo e nem aconselho fazer, mas fiz.

A partida deu início e os caras vieram pra cima. Canfora dê-lhe tacklear e os Mamutes forçando no que tem de melhor: a primeira linha avançando na força. A vontade era tanta que o Gonza, artista do desenho e, entre outras obras, autor da camiseta "orgulho farrapo" do time de Bento Gonçalves, tackleou tanto que deslocou o ombro. Entende-se. Demos carona pra ele e era explícita a empolgação dele em jogar rugby com amigos argentinos depois de alguns anos. Na hora nem me dei conta. Sai de campo para que Mamutes fantasiados entrassem em campo e abrilhantassem a festa com humor e logo depois voltei. E que retorno.

Gonza - de Entre Ríos para o mundo, um valente
Num lateral na esquerda, eu posicionado na outra ponta, e o Canfora dá um chute em diagonal. A bola deveria ser minha. Furei. Ela picou e, como toda bola ova, traiçoeira, ao invés de sair pela outra lateral, voltou pro meio e um adversário pegou e afundou um try no nosso ingoal. A partir daí o jogo começou a pegar. Os mamutes jogavam em casa e não aceitariam a derrota. Minha participação no scrum foi pro espaço. Fiquei na linha, aguardando, sem ter habilidade pra pegar de centro e servir na primeira assistência no ruck, um ou outro mamute me indicava a ponta e segurar posição. Foi assim durante boa parte do 1º tempo. Eu tenntando subir e voltando correndo pra não deixar um buraco atrás. Me sentia meio inútil, mas sabia que um buraco, uma bola espirrada e era outro try deles. Acabou o 1º tempo e 12-5 pro Cânfora.

Marcelo "Má Fama" Benvenutti mostrando toda sua destreza
Foi aí que entrou a astúcia de Scopel, o nosso 'Graham Henri". Em uma audaciosa decisão, ignorando as ordens táticas que o Tito dava aos jogadores, serviu, tenho que contar para que o mundo saiba e estude, Gatorade com Fermet para nossos jogadores. Naquele momento eu tive certeza que viraríamos o jogo. Nenhum time de Rugby no mundo bebe tal mistura escabrosa sem que o destino lhes deixe de prêmio a glória dos escolhidos. O 2º tempo começou pegado e os Mamutes optaram pelo jogo de enfrentamento, no melhor espírito do Farrapos. Era ruck em cima de ruck, e eu, prensado entre alguém me dizer pra segurar na ponta ou cair nos rucks, ficava como barata tonta correndo pro meio e voltando pra lateral. No 1º ruck que cheguei confesso que espanei. Não sabia o que fazer. Nos seguintes chegava atrasado ou alguém com mais tino pegava a bola e gritava "libera Marcelo!" Daí em diante comecei a me jogar, mesmo sem nenhuma noção. Levei umas espinafradas, saí voando, convertemos um try e o jogo ficou no Canfora 12-10 Mamutes.
Fases intermináveis - Jogo de gigantes
Quando eu estava começando a pegar o jeito em me enfiar naquele bolo, e voltar correndo e marcar a lateral e pensar em duas ou três coisas ao mesmo tempo, o tempo que, parafraseando o poeta e jogador revelação dos juvenis do Farrapos, Lucas Mariuzza, é "como Nescau. Quando a gente vê, acabou." Depois de 877 fases o juiz marcou uma falta dentro dos 5 metros. A estratégia friamente calculada de Scopel chamou Lucas "Stent" Brunelli para converter o penal decisivo. Mamutes do Farrapos 13-12 Canfora RC. O que veio depois, o chamado "terceiro tempo", é um segredo só reservado aos que adentram o gramado. Quer saber o que é? Pratique Rugby! Não vai te arrepender.

26 - na verdade nem exite na numeração do XV
Ps.: Agradeço a todos que de uma forma ou outra me ensinaram algo de novo. A todos fica a minha amizade e a certeza que quero aprender muito mais. E um agradecimento especial pra minha mulher, Betine, lá, sentada na arquibancada, escutando corneta em cima do 26 barbudo na ponta que não jogava nada e achando que teria que me carregar depois do jogo. O Lorenzo, meu filho, não. Pra ele tudo é festa! É um mini rugbier.

(fotos do Jornal Serra Nossa e de Diogo Filippon)

04/10/2012

Uma História de Rugby - Parte Um

Posso dizer que tudo começou em 2007 por conta de nossa comadre, Milena Fischer, que na verdade não gosta e nem tem nada a ver com Rugby. Mas na época ela fez uma pauta sobre o bairro de Palermo em Buenos Aires, bairro de artistas, onde livrarias, lojas de moda de rua, bares, boêmia ativa que se perpetua sobre a capital portenha, e a Betine, como não poderia deixar de ser, ficou doida para conhecer a cidade, as lojinhas, tudo. Peso em baixa, Real em alta, fomos bem grandões passear por Buenos Aires, mas na verdade passaríamos quase todo o tempo em Palermo.

Na mesma época acontecia a Copa do Mundo de Rugby da França. Entre uma loja e outra eu observava as TVs ligadas e argentinos vidrados acompanhando os jogos. Claro que não era um público de futebol, mas observavam como se fosse um esporte tão compreensível quanto basquete, por exemplo. Eu ficava ali matutando, bebendo a jarra de Quilmes e tentando compreender porque no Brasil eu nem tinha notícia de Rugby. Pra mim era como se fosse um esporte fantasma. Muitos anos antes tinha lido uma matéria na Zero Hora sobre o Charrua, era algo tipo "um novo esporte surge em Porto Alegre", mas que não teve continuidade, claro.

Palermo 2007 - argentinos e o Rugby

Antes de voltar comprei uma El Grafico e tinha uma reportagem completa, com tabela e tudo o mais, sobre a Copa da França. Comecei a acompanhar os resultados pela internet. De vez em quando um ou outro jogo passava na ESPN, eu assistia, mesmo que sem entender muito, só pela diversão de ver aquele embolamento e o que à primeira vista parece uma pancadaria. Em 2009 o premiado Invictus de Clint Eastwood ajudou muito, apesar de o tema central do filme ser a luta pela igualdade em um país destroçado por uma ditadura racista, o Rugby é o elemento aglutinado que Mandela sabiamente utiliza durante a Copa de 1995.

Finalmente conheci o Farrapos Rugby, time da cidade de Bento Gonçalves, terra da Betine. Lendo e os jornais da cidade acompanhei o crescimento do time até que vencesse o 1º título estadual, e no ano passado, com o bi e a participação no novo Super10, campeonato nacional de Rugby XV. Resolvi, como sempre resolvo quando pretendo conhecer um determinado assunto, fazer um intensivo pela internet mesmo. Acompanhar os jogos da Heineken Cup na ESPN e a Copa do Mundo da Nova Zelândia também vieram em auxílio. Restava acompanhar em campo. Ano passado fui a um jogo da Copa RS onde o Farrapos perdeu para o Novo Hamburgo. Indiferente à derrota, o crime estava feito. De lá pra cá tenho acompanhado o esporte de forma vertiginosa, como um vício incontrolável, vício este que aos poucos vai consumindo a energia que eu dispendia acompanhando futebol e o Inter.

Farrapos x Charrua no campo da BM - 2012

Após a copa de 2011 começaram os rumores da Argentina se juntar ao Tri Nation, competição dos grandes do hemisfério sul disputada entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, e jogar contra eles algo previamente chamado Four Nations, mas que viria a ser Rugby Championship. Pois aconteceu. Quando saiu a tabela e o dia do jogo já pedi pra Betine marcar a parte das férias que faltavam pro fim de setembro. Eu tinha que assistir. Assistir Pumas x All Blacks seria como um Brasil x Itália de 1970. Impossível não querer estar lá. Comprei as entradas nos primeiros minutos do dia 7 de maio quando abriram as vendas pela internet. Estava feito. Não tinha mais volta. Quase cinco meses aguardando ansiosamente o grande dia.

Enquanto aguardava torci pelo tri inédito do Farrapos, acompanhei o Super10, os amistosos de fim da temporada europeia contra os países do sul, voltei a fazer musculação, correr e tentar voltar à forma física, nem que ainda seja a de um barril musculoso. Tudo isso é culpa de muitos fatores sendo que o principal deles é que o Rugby me fez acreditar em algo palpável, amizade e esporte, lutar pelos seus objetivos mantendo um código de honra e lealdade, quase um caminho do samurai (assistam Ghost Dog). Nada disso nasceu assim, do nada, foi um caminho que eu permiti se abrir na minha frente. Esse caminho teria que passar novamente por onde tudo começou: ARGENTINA.

Mas disso eu falo semana que vem na Parte Dois.

12/09/2012

Lutando Contra os Números

Um blog como este, de um neófito no Rugby tentando compreender o esporte, poderia simplesmente se resumir a exaltar a beleza do esporte, que está além das jogadas, dos dribles de corpo, daquele chute que pega a defesa adversária desprevenida e resulta em um try dos mais saborosos. Ainda não chegamos na ebulição do Rugby no Brasil. Eu diria que a temperatura da fervura da subindo, mas ainda falta um tanto pra chegarmos no ponto de ebulição. Uns 10 a 15 anos que seja. Talvez até o fim desta década, quem sabe? Com a RugbyChampionship na Argentina os sul-americanos amantes do Rugby agradecem o incentivo.

Dia 01 de setembro o Farrapos jogava contra o SPAC em São Paulo. Pra mim que gosta de assistir futebol no estádio, no máximo na TV, mas não tenho paciência pra rádio ou internet, acompanhar pelo twitter é muita tortura. O Lorenzo já tinha nos programado naquele sábado de sol e temperatura agradável. Fomos no Museu da PUC (50 reais bem investidos, diga-se), depois um almojanta na Lancheria do Parque, a melhor de todas, e à noite, um piquenique à luz de velas no Parcão. Oito horas de diversão pela cidade de Porto Alegre. Enquanto isso rolavam e terminavam as quartas-de-final do Super10. Eu preferia não saber os resultados antes de chegar em casa.

Meus maiores temores se confirmaram quando abri o site http://www.rugbysuper10.com.br/ . Tudo estava lá. SPAC 47-19 Farrapos. Não pelo placar, que muitas vezes no Rugby não significa o que foi o jogo. Sem ter assistido a partida me restam as estatísticas que o site fornece. Até os 19 do 2ª tempo o placar estava em 20-19 para o centenário clube paulistano. Quer dizer, nos últimos 20 minutos, o último quarto do jogo, é que foi decidida a partida. Mesmo que sem todos os dados e cruzamentos necessários, tentei concluir algo daquilo que como torcedor observo do Farrapos. Décadas de fanatismo futebolístico me fazem transpor para o o Rugby aquilo que observo no futebol. Retirar dos dados e da observação algo que me faça compreender aquilo que acontece em campo.

Pois bem, abri a 1ª lata de cerveja, coloquei os fones de ouvido, quando o Lorenzo me deixa escutar em paz, meus Happy Mondays, Noels Gallagher e Slades, e, sem pressa, entre uma lata e outra, colocar numa tabela o que observo e ver se os números fecham com com o que meus olhos teimam em acreditar: Que o Farrapos cai de produção no último quarto da partida.  Não pensem que é uma crítica. Não! Longe de mim. Sei das dificuldades que um jogador que trabalha e estuda em tempo integral enfrenta, pagando pra jogar, pra treinar e chegar em um nível de rendimento de competição. Não tem vida fácil. E dentro deste enfrentamento os jogadores, a comissão técnica e os dirigentes se jogam de cabeça. O que aqui vou detalhar é apenas uma constatação.

Peguei os dados dos 7 jogos do Farrapos no Super10 de 2011 e os 5 jogos do Super10 de 2012. Fiz uma tabela dividida em quartos de partidas, de 20 em 20 minutos, 2 quartos por tempo. Depois estabeleci uma relação entre os anos e a pontuação, diferença de pontuação, trys a favor e contra, penals convertidos a favor e contra e punições (cartões amarelos e vermelhos). É o que o site me proporciona. Nos penals não se tem a informação de quantos foram cometidos ou de quantos forem chutados pra fora.  Assim como não existem estatísticas de tackles, offsides, viradas, knockons, disputas de scrum ou de laterais. Talvez alguém com mais tempo livre e tendo os VTs pudesse fazer este levantamento (acredito que alguém faça isto, apesar de ser um trabalho exaustivo).

Nos 7 jogos de 2011 a média de placares do Farrapos foi 15-32. Em 2012, em 5 jogos, 15-33. Praticamente inalterada. Em 2011, 61% dos pontos foram convertidos no 2º tempo; Em 2012, 60% no 1ª tempo. Em 2011 não existiu grande variação nos pontos sofridos, a média entre os quartos variou de 7 a 9 pontos contrários. Já em 2012, 60% dos pontos foram sofridos no 2º tempo, sendo 36,5% no último quarto. Uma varição de mais de 40% em relação à 2011. Enquanto em 2011 a maior variação de pontuação era o time perder por 5 pontos de diferença no 1º quarto e depois baixar a diferença, em 2012 o Farrapos, na média, perdeu o 1º quarto por UM PONTO, o 2º por 2, o 3º por 3 e o último por DEZ pontos. Um decréscimo na pontuação quase exponencial da equipe nos últimos 20 minutos. Na média a equipe perdia por 11-24 faltando 20 minutos e em 2012 perde de 13-21. De 13 para 8 pontos de diferença. Estes 5 de diferença são sofridos nos últimos 20 minutos.

Esta diferença de evidencia quando observamos que 2/3 dos tries eram convertidos no 2º tempo em 2011 e em 2012 são convertidos no 1º tempo. Mas se decaiu os tries de um tempo para outros, porque a diferença na média continua a mesma? Porque quase quase metade dos tries (48%) são sofridos no último quarto da partida. Como as penalidades convertidas caíram na mesma proporção, o que considero uma evolução do próprio Super10, mais experiência e intercâmbio, menos penalidades, e os cartões do Farrapos caíram para menos de 25% do que recebiam o ano passado, demonstrando uma evolução técnica e de conhecimento das regras da equipe, a única explicação plausível para este decréscimo da produção, tanto ofensiva quanto defensiva, do Farrapos nos últimos 20 minutos, pra mim, deve-se muito mais ao estilo de jogo proposto que propriamente a uma falta de preparo físico mais acentuada.

Obviamente, como leigo, me atenho ao que apreendi do esporte como observador nos últimos 5 anos e do que vejo quando assisto aos jogos da arquibancada (mas a TV e a Internet também me ajudam nestas horas), possa estar errando em minha conclusões. Ainda me confundo, e muito, nas funções de cada jogador em campo. Enquanto a maioria admira principalmente os 1ªas linhas e o abertura, me ligo nos fullbacks, nos que dão o 2º combate e nos atravessadores. Nada mais natural pois quando jogo futebol quero jogar no desrame, na destruição e largar a bola para os outros. Minha natureza é destruidora e sempre tendo a admirar os pedreiros em vez dos arquitetos, apesar de saber que são estes que finalizam.

Resumindo, que já avancei demais nos números, o Farrapos é uma equipe fisicamente muito forte, a mudança de jogadores do Super10 de 2011 pra 2012 foi na base de uns 40%, mas a equipe titular este ano é relativamente mais jovem, logo não seria o físico uma influência determinante, mas sim a escolha de um jogo forte no scrum, nos rucks, nos volantes, apostando em agredir e segurar o adversário nos primeiros 40 minutos e fazer diferença. É um estilo argentino, que é logicamente influenciado pelo rugby europeu, o britânico principalmente. Eu gosto. Mesmo prefiro os Pumas aos Wallabies, mas gosto dos Bokkes e não tenho como não admirar o Rugby total dos All Blacks, mas essa escolha, certa ou errada, confronta com um outro estilo, do drible de corpo, da velocidade e da troca rápida e precisa de passes. Acredito que resta ao Farrapos encontrar o equilíbrio, que virá com o tempo, de saber manter sua personalidade, que o diferencia no Rugby nacional, com velocidade e técnica nos momentos cruciais de cada partida.

Sábado, dia 15/09, tem mais. Contra o Curitiba fora de casa é a semifinal do 5º lugar. Para o Farrapos vencer já o colocará em uma patamar mais alto que em 2011. Lutando contra o números. Do começo ao fim. Em frente!


21/08/2012

O FILHO DE JO

Ontem finalmente consegui assistir o filme que tinha gravado contando a história de Tom, um garoto do sul da França, que gosta de rugby mas se vê forçado pelo pai a ser o melhor para seguir a tradição centenária da família Canavarro de jogadores de Rugby pelo RC Doumiac.

O diretor do filme, Phlilippe Guillard, é também um ex-jogador de rugby do Racing Club, empreendeu este filme de 95 minutos e custo de 2,5 milhões de euros  em 2010, sendo lançado antes no sul da França, tradicionalmente a região onde o rugby é muitas vezes mais forte que o futebol, no final de 2010.

O pai de Tom, o Jo do título, interpretado pelo reconhecido ator na França,  Gerárd Lanvin, viúvo, criou sozinho o filho enquanto batalha, sem sucesso, para pagar as dívidas e manter o sonho do clube de rugby da família. Ajudado por Pompom, interpretado por outro ex-jogador de rugby, do Stade français, entre outros clubes, Vincent Moscato, que é um agregado e melhor amigo de Jo, Chinês, um mulherengo ex-jogador do Doumiac que traz para ser treinador um verdadeiro all-black, outro ex-jogador atuando no filme, tenta montar um time, mesmo que no começo à revelia de seu filho, Jo, com  quem mantém uma relação conflituosa.

É um filme comercial, óbvio, mas um filme comercial francês. Quando tudo poderia descambar pra pieguice, o humor e as grosserias típicas dos franceses, dão a tônica do filme, que além de ser uma apologia à irmandade que se cria no rugby, é também a história de aproximação, auto-conhecimento e descobertas entre pai e filho. Vale cada minuto da uma hora e meia. Pra quem gosta de rugby e é pai, como eu, é um prato cheio e temperado. Assistam!

Abaixo o trailer legendado

30/07/2012

A LUZ E A SOMBRA


Em Porto Alegre o dia amanhecia gelado e nebuloso. A cerração baixa fazia com que os automóveis ligassem os faróis. O dia se deixava vislumbrar sombrio, mas à medida que subíamos a serra até Bento Gonçalves a temperatura subia e o sol se abria com toda a força que consegue manifestar em uma manhã de julho abaixo dos trópicos no hemisfério sul. Certo que cochilei após o almoço e decidi, sozinho, caminhar até a Montanha. Um porto-alegrense de 41 anos, que visita regularmente Bento desde 2004, mas ainda não conhece os atalhos para fugir das piores lombas, como carinhosamente chamamos subidas íngremes aqui pelas bandas do paralelo 30. Pouco mais de um mês depois de voltar à uma academia e aos treinamentos na musculação, atividade que me dediquei regularmente de 1999 até 2005 e que abandonei para me dedicar a outra atividade, bem mais onerosa e cansativa, mas recompensadora em todos os sentidos, a de ser pai do Lorenzo, fui eu, passada forte, encarar os sobe-e-desces da capital do vinho gaúcho.


Na metade da segunda lomba, a mais íngreme de todas, ao lado do estádio da Montanha (porque vocês acham que ele tem esse nome?), literalmente botei os bofes pra fora. Os gritos da organizadas do Farrapos, os Los Farrapos, uma língua rollingstoniana verde é o seu símbolo, me impulsionaram a encarar a segunda metade da subida, já implorando para chegar ao final dela vivo. Inteiro eu não estava. Fui direto ao bar e, como nunca, pedi uma garrafa de água. Sem gás. O blusão de lã que antes me aquecia agora me sufocava. O gás me faria explodir.. Olhei para o placar que marcava 3-0 para o Farrapos contra o Desterro, a vibração que me deu forças para terminar minha via crucis de torcedor de Rugby, a água recobrando minhas forças e o caminho até às velhas arquibancadas do antigo estádio de futebol.


O sol, forte como nunca em uma tarde de julho em Bento, esquentava a partida, e o Desterro, se aproveitando de uma desatenção, a primeira da tarde, da linha farrapa, marcou o seu primeiro try, não convertido, e estabeleceu o 5-3 no placar. O Farrapos estreava sua camisa alusiva a Revolução Farroupilha, num jogo contra um dos dominados da revolta gaúcha do século XIX, era como se o passado viesse assombrar os generais rebeldes. O sol quente era um aviso dos céus, impenetrável. O grupo rio-grandense tentava manter a pegada e jogar com a contundência de quem se exibia em frente ao mais fiel público de Rugby do Super10. A barra pulava e cantava sem parar, os bumbos espoucando e dando ritmo ao time. Do outro lado do estádio, a torcida aparentemente mais calma, formada por familiares, crianças e muitos curiosos, alguns até sem nem mesmo compreender muitas das regras do esporte bretão, gêmeo bivitelino do futebol, gritava incentivando o clube a buscar seu try.


Impulsionado pelo sol o Desterro chegou ao segundo try enquanto o Farrapos se desgastava em tentativas frustradas de tries, fases sobre fases, rucks sobre rucks, o time catarinense chamando as forças do Império e, estrategicamente, fugindo dos scrums farrapos, base de sua força e prevalência moral. E assim o primeiro tempo terminou, 10-3 para o Desterro. Decidi, como todo bom supersticioso, trocar de lado de arquibancada. Obviamente não influenciaria em nada no resultado da partida, como também a torcedora de seus 60 anos não alteraria nada, casaquinho em punho, berrando na grade, “vamos farapo”, com a entonação e os erres característicos da fala do povo de Bento. Eu, já só de camiseta, aproveitava o curto intervalo para armazenar minha mente de álcool, única decisão sensata para espantar o azar, ou a noção de realidade, e deixar com que as sombras das nuvens que se amontoavam abaixo do sol iluminasse os jogadores do Farrapos. E assim foi.


Mais consistente, brigando por espaços e batalhando à gaúcha, corpo-a-corpo intenso, avançavam sobre as forças imperialistas, quer dizer do Desterro, Garibaldis empurrando um navio pelas dunas de Laguna, as nuvens trazendo um pouco do clima gélido das plagas nos fins de julho, e o astro-rei, obviamente monarquista, se contorcia à busca de um Caxias para lhe ajudar a aniquilar as forças de Bento Gonçalves. Enquanto as forças das sombras dominaram a Montanha, o Farrapos voltou a ter mais posse de bola, marcar em cima as tentativas de contra-ataques rápidos do Desterro, e impondo um try convertido e forçando, dentro da linha dos 22, os catarinenses a cometerem falta. Um adversário pressionado sempre comete mais faltas, pois no Rugby, o que parece simples não é. Claro que a qualidade do passe é importante, a inteligência nas mudanças de lado, nas quebras de linha, nos dribles, na jinga, a arte de escapar tal qual um muçum, peixe escorregadio da região e nome de uma cidade próxima, mas a marcação, a defesa, exige atenção máxima, o olhar fixo, como a esperar para dar o bote certo no tackle, a corrida no momento certeiro e a aposta na imprevisibilidade da oval ao tocar o chão em sua trajetória irregular e ao mesmo bela.


A bola de Rugby é como aquela mulher, tentadora, persuasiva, que nos faz correr atrás dela como bobos. Parece que vai para um lado e vai para o outro. Resvala, nos faz cometer erros imperdoáveis, cai para frente, tonto, o jogador tateia no espaço vazio à procura da bola e ela, zombeteira, cai em mãos alheias. Nos breves momentos em que a colocamos embaixo do braço, aconchegada sob a asa, ela é nossa, de mais ninguém. O try orgasmático da vitória, como se fosse um esperma insano tentando adentrar o óvulo matreiro, a oval só atinge seu objetivo quando prensada sobre o ingoal adversário. Só assim, subjugada, ela se entrega e beija o solo, até a próxima jogada, quando volta a ser como sempre foi. Traiçoeira. Imprevisível. Desafiadora.


O 13-10 a favor no placar acalmava a torcida que agora cantava a pleno. A torcedor sessentona aliviada, sentava-se a observar. Parecia questão de tempo segurar as investidas do time de Florianópolis e tentar converter um try ou um ou dois penals para, pelo menos, garantir a vitória, mesmo que mínima. Mas as sombras que traziam o frio se desformaram, assim como as forças da defesa farrapa, e Bento Gonçalves começou a sofrer as baixas de um exército que se exaurira numa ferrenha batalha corporal. Os jogadores catarinenses se aproveitavam destes momentos e disparavam pelos flancos da linha de Bento convertendo trys na metade do segundo tempo. A torcida, como que pega de surpresa, tentava reagir com gritos esparsos. O sol era negro e as sombras se perdiam no horizonte, A tarde quente trazia o desalento do silêncio ao apitar final do juiz. O Farrapos ainda lutava, como em tantas outras vezes naquela partida, por um trabalhoso try de fases, frustrado por um erro, um knock-on, embolamento que cega o árbitro, a oval que beija outro na saída da festa. 27-13, ponto bônus para o Desterro e a certeza que algo poderia ter saído melhor.


Um resto de cerveja quente amargava na minha lata. Restava-me juntar aos soldados combalidos e, entre abraços e demonstrações de amizade, sorrir na desgraça. Os verdadeiros amigos se conhecem na derrota. Quem vive sempre sob o sol não sabe que é nas sombras que se encontram forças para seguir em frente. Nos meus delírios noturno se desenhava a verdade do Rugby no fundo do copo. Saber que não escolhemos amigos ou inimigos, mas escolhemos as ideias com que farão com que uns sejam amigos e outros, não. Quem escolhe o Rugby não escolhe inimigos. Que venham os paulistas!

19/06/2012

FRIO, RUGBY E CERVEJA - A CONQUISTA DO TRI

Chegamos cedo na Montanha, eu e a Betine. Olhar as camisetas da tenda da Sul Back, que fornece o material esportivo do Farrapos, tomar uma cerveja, encontrar os amigos e se acostumar ao ambiente de decisão. Na preliminar o Sanm Diego vencia o Novo Hamburgo por 27-10, no final venceria por 30-22, e seria coroado com o terceiro lugar no pódio do Gauchão de Rugby. Quando perguntado o que achava da final por um torcedor mais confiante do Farrapos, respondi: Vai ser encardido. Antes não tivesse dito. Foi. Mas, antes das emoções da partida, cabe falar mais um pouco sobre alguns aspectos do companheirismo, até certo ponto, claro, pois também tem um título em jogo e ninguém gosta de perder, ao lado da arquibancada principal do estádio, coberto por uma lona, era assado um churrasco de chão, costelão e paletismo virado contra as brasas rentes ao píso, aguardando o terceiro tempo, tradição do esporte, momento em que os adversários de campo confraternizam abaixo de, quase sempre, muita cerveja, e no caso brasileiro, muita carne.

De um ano pra cá entrei numa espiral de acompanhar o esporte que já teve duas consequências. Uma é me tornar referência entre os amigos e conhecidos que não sabem nada do esporte. A segunda é começar a sofrer com o estranhamento sobre o porquê de alguém que até alguns anos atrás falava só de futebol e agora falava mais da metade do tempo sobre Rugby. É complicado explicar sem que se conheça o esporte antes. Primeiro reação, óbvia, e preconceituosa, é que é um esporte violento. Não é. É tão ou mais violento que o futebol. Obviamente é mais violento que o vôlei, um esporte quase sem contaTo, mas todo o esporte coletivo de contato, futebol, basquete (que não joguei nada durante alguns anos na infância) e Rugby, entre outros, envolve a disputa pela bola e pela posse de espaços no campo ou na quadra. É uma disputa de território. O que diferencia o Rugby é na disputa pela bola a possibilidade de se derrubar, tacklear, ou empurrar, num ruck ou num scrum, o adversário para dentro de sua meta. Só. Mas existem regras para isso. Não se póde ultrapassar a "linha inimiga", uma linha imaginária atrás do pé do último homem de sua própria linha. Nãso se pode invadir pelos lados. Não se pode pegar o jogador sem os pés no chão (no ar), derrubá-lo sem a posse de bola (aqui uma diferença crucial do futebol americano), impedir o avanço da jogada com obstruções (como no futebol). Enfim, existem regras. E posso garantir que, independente de falhas da arbitragem, que existem em qualquer esporte, as regras no Rugby são mais seguidas que em muito esporte que proclama a arte, mas também estimula e premia a falcatrua.

 Imagem geral antes do começo da partida, 
fumaça do churras ao lado da arquibancada.

O jogo mal começou, falo de memória, acredito que aos 10, ou 12 minutos, da primeira etrapa, o Charrua pressionando desde o início e jogando o Farrapos contrra o seu próprio campo, deixava evidente que queria largar, e logo, com um try De Daniel Blanquito sobre a até então no campeonato invencível defesa de Bento. E foi assim que depois de muita briga, empurrões, na base da força mesmo, que o Charrua escapou da marcação farrapa e meteu um try que desnortearia por algum tempo o time da casa. O Farrapos demorou a conectar no jogo, mas aos poucos foi tentando reativar seu característico jogo de chão e scrum que muitas vezes foi o diferencial em suas vitórias mais suadas. Forçando o erro do adversário e tentando se aproximar do ingoal índio o Farrapos, armando uma jogada pelo meio, dividiu a a atenção adversária e sobrou para Scopel acertar um drop goal e diminuir a diferença para 5-3. Uma leve garoa começou a baixar a temperatura gradativamente, de um clima ameno passou em menos de meia hora para um clima nebuloso e frio, ou seja, virou o tempo entre a metade do priomeiro tempo e o intervalo. A bola, já de difícil domínio nas disputas aéreas por ser oval, ficava ainda mais fora de controle com a umidade.

A partida seguia perigosa para o Farrapos, com o Charrua sempre forçando uma escapada de contra-ataque pelas laterais, mmas também com muita combatividade no chão e nas tramas pelo meio de campo, com ligeira vantagem para o Farrapos, forçando o Charrua a ter que disputar a bola no limite. E, no Rugby, quando alguém tem que disputar pore muito tempo a bola no limite, acaba cometendo faltas, seja invadindo a formação inimiga. Quando a partida já estava nos acréscimos, o Charrua cometeu uma penalidade. Scopel não perdeu a oportunidade e converteu os 3 pontos quase da intermediária. Farrapos 6-5 e um intervalo nervoso e vibrante entre as torcidas que faziam a festa na Montanha. Enquanto a Betine aguardava na fila do banheiro, mulheres com frio ávidas por um vaso sanitário, peguei mais uma cerveja e fiquei conversando com o Diogo Filippon, repórter e fotógrafo do Leouve (reportagem com fotos no link do site  ) e ainda não acostumado com os intervalos mais curtos no Rugby que no futebol, olhei pra dentro do campo e já tinha iniciado a segunda etapa. Mal me ajeitei na linha de fundo, colado na grade, e o Farrapos cometeu uma falta e sofreu 3 pontos num penal bem cobrado pelo Charrua. 8-6. Começava o martírio da torcida de Bento.

 Lateral cobrada para o Farrapos, primeiro tempo, 
time de Bento em desvantagem.

A torcida do Charrua, animada e vibrante, cantava e se fazia ouvir pelo estádio. A torcida farrapa gritava e fazia uma baderna do bem na arquibancada contrária. A Betine, nervosa, ficou fumando sozinha atrás de um H enquanto eu fui pra grade. Não consigo ficar sentado assistiundo quando encarde um jogo. Eu vou pra grade. Larguei bandeira e fui lá na lateral acompanhar as jogadas. Dava vontade de entrar em campo e empurrar junto aquela bola pra dentro do ingoal porto-alegrense. Culpa da Betine, eu, um porto-alegrense maldito, com o mais grudento sotaque das Osvaldo Aranha da vida, ali, torcendo contra minha própria "pátria", mas fazer o que? Essas coisas de paixão esportiva não têm lógica. Minha bandeira da barra foi pra banha, alguém levou pra fazer festa. Um sujeito que observou só disse: "É 2011, amigo. É assim." Nem questionei falar pra ele que já estamos em 2012. O Farrapos forçava, como sempre, e tentava cavar um buraco na forte defesa charrua, sem sucesso, restava forçar o erro. Numa bola na meia-direita o Charrua cometeu a falta, o jogo já descambava, natural para um final, para o nervosismo e os afagos de parte a parte. Scopel se preparou, poderia ser a virada, e quando ele tocou na bola na hora vi que aquela tinha ido muito mal. E foi. Nem chegou na linha dos 5 metros. Mais um tempo, o relógio passando,quase 30 do segundo tempo, e mais uma falta pro Farrapos.Quase frontal. Scopel ajeitou e o meu lado da arquibancada vgiobrou como se fosse um chute certeiro. Mas os bandeirinhas nem tchum. Foi por fora do H. Continuava 8-6. Até que faltando 7 minutos para o final, o Farrapoos conseguiu empurrar a linha adversária para perto de sua meta, e na imposição física, fez um histórico try quase rente ao chão. Try de Pequeno e uma conversão, dessa vez, em cheio, de Scopel. Farrapos 13-8. Restava ao Charrua partir pro try, agredir, e vender caro a derrota, como vendeu, jogando até o último instante, em cima do Farrapos, e valorizando, e muito, o inédito tricampeonato do caçula dos campeões gaúchos, 5 anos incompletos e já maior campeão regional e único representante do estado na elite nacional.

 Festa da barra Los Farrapos! Loucura!

Festa nas arquibancads, foguetório, sinalizadores, rolos de papel higiênico voando, o garrafão de vinho pulando de mão em mão, a gurizada em cima da grade, a foto Amado Batista tremulando (alguém me explica qual o significa do Amado Batista pra barra farrapa), invasão de campo, foto com todos pulando, se jogando chão, loucura geral. Depois a entrega das premiações, algum resmungo com a arbitragem, a meia-boca, mas eu não notei nada e não acredito que a arbitragem tenha interfeirido no resultado, reportagem da TV em campo, já que a prometida transmissão ao vivo não rolou, a reportagem para os programas de esporte se fez presente, o churrasco fumegando na lateral cerveja e champanha rolando de mão em mão entre os jogadores, tanto vencedores quanto vencidos e o terceiro tempo que se avizinhava. Pra mim e pra Betine o terceiro tempo seria à noite, no Ferrovia Cult, bar que tem a mesma idade que o Farrapos, cerveja, rock e os amigos falando bobagem, Betine bebendo na taça pra dar sorte, eu derrubando a cerveja da mesma, e a certeza que estamos vivendo dias históricos desse esporte que um dia será grande no Brasil. Podem acreditar e me cobrar.

Betine bebendo na taça. Rumo ao tetra?

22/05/2012

NÃO TEM MAIS NINGUÉM BOBO NO RUGBY

Dias tentando reativar o blogue e não me sobra tempo nunca. E quando sdobra tempo o Lorenzo me rouba a atenção. Mas agora, pra dizer a verdade, não tem nadea a ver com Rugby, ou tem, mas baixei o show do Black Sabbath do dia 19 de maio em Birmingham, cidade do Aston Villa e onde, obviamente, se joga Rugby, tanto Union quanto o League.

Pois bem, nesses tempos de Heinekens Cups, Premierships e quetais, o Gauchão de Rugby chega nas semifinais. O Rugby brasileiro não tem um calendário intenso como o europeu ou dos gigantes do hemisfério sul, e vale lembrar que o Rugby é um dos únicos esportes coletivos que as potênciasd mundiais se encontram no sul do mundo, se não for o único. Mas as federações e os clubes vestão cada vez mais ágeis pra transformar e revolucionar no Brasil. Parece papinho de entusiasta, eu sou um, mas pra quem acompanha todos os dias, nem que seja quase que só pela internet como eu, é notório o crescimento do esporte.

A receita de patrocínios da CBRu, a CBF do Rugby, pra simplificar, quintuplicou nos últimos 2 anos. Mesmo assim se encerra em pouco menos de 7 milhões de reais, mas já é o suficiente para os clubes jogarem o Super10, a principal competição nacional de clubes, com viagens e estadias subsidiadas. As tabelas são curtas. No caso do Super10, por exemplo, são 5 rodadas em dois grupos de 5, quartas-de finais, semifinais e finais, todas em jogos únicos. Oito datas no total. No Gauchão de Rugby são 4 datas na fase inicial e mais duas nas finais, sempre só com jogos de ida. Um time como o Farrapos joga 14 partidas nos seus dopis prinicipais torneios de XV. Depois tem a Copa RS, uma análoga da Copa RS de futebol, onde os times de todas as divisões gaúchas jogam entre si, são só duas, e os times que jogam as copas nacionais, no caso gaúcho o Farrapos e o melhor colocado no Gauchão de 2012, muitas vezes jogam com uma equipe B.

Resumindo, com alguns amistosos espaçados, tudo se resume a no máximo 18 ou 20 datas por ano. No resto do tempo é treino e treino, como os jogadores conseguirem treinar, afinal, infelizmente, ninguém vive de Rugby e a popularização do Rugby no mundo, a partir da liberação da profissionalização em 1995, fez com que o esporte deixasse de ser um esporte elitista (uma das causas de sua não-expansão mundial tão avassaladora quanto o futebol, apesar das carcterísticas que o tornam um esporte atraente, disputado e emocionante). Depois dessa minha explanação, breve, e incrivelmente regada com uma prosaica lata de cerveja preta (Boehmia, é boa pra tomar meio morna, como se fosse café), vamos ao que interessa: O jogo no estádio.

No dia 2 de maio fomos eu, a Betine e o Lorenzo, assistir e torcer pelo Farrapos contra o Charrua no Campo da BM, na Aparício, do lado Presídio Central. O campo é curto, quer dizer, é um campo de proporções pequenas de futebol, não acho que tenha os 100 metros de um campo de Rugby, tanto que o in goal parecia ficar aquém do H, o que confundia quem assistia das arquibancadas, confortáveis no "setor camarote". Confortáveis quero dizer, com cobertura. Arquibancada de concreto, como todo bom estádio de futebol das antigas. Nos aglomeramos no que certamente é a tribuna das autoridades quando tem alguma atividade da Brigada Militar. A marcação do campo é péssima, as linhas de 22, meio campo e de 5 metros quase invisíveis, e a área do in goal, muito curta, propícia para que alguém se arrebente numa disputa mais descontrolada em pedaços de concreto e outros obstáculos que se encontram atrás de onde normalmente se joga futebol, portanto, onde não tem jogo. Dos Hs nem vou falar porque se as goleiras não tem 3 metros não vou esperar eu que os Hs tenham os quase 4 metros necessários pra se ter uma boa visão, pelo menos pra quem assiste das arquibancadas, se um penal ou conversão passou entre os postes ou não.

De cara, chegamos atrasados, o Charrua marcou 3 pontos em um penal. Logo após o Farrapos igualou a partida, que seguia muito brigada, mas com o Farrapos tomando a iniciativa dos ataques e jogando o Charrua para dentro de seus domínios, tanto pela imposição física, característica do time de Bento Gonçalves, quanto pela rápida troca de passes entre seus jogadores. A cada partida o Farrapos vem se alterando em jogadas cada vez mais rápidas na troca de passes, o que deve ser fruto de treinamento e ensaio, claro. O try não demorou a surguir, brigado, pelo flanco esquerdo do ataque do Farrapos. Sem a conversão o primeiro tempo fechou em 8-3 para os serranos.

Na segunda etapa, pressionado por sua torcida que compareceu em bom número, para um jogo de Rugby, cerca de 300 pessoas,o Charrua se jogou para a frente e foi truncado pela defesa farrapa, quase não conseguindo chegar nos 22 do time de Bento. Depois de muito tentar por baixo, o Charrua começou a abusar dos chutões e apostar no erro do adversário. O clube de Porto Alegre lutou duramente, mas numa escapada pela esquerda, de novo, um belo try do Farrapos, e com pouco tempo de jogo, depois da conversão, restou aos porto-alegrenses honrosamente apostar em mais um penal e diminuir a diferença pra honrosos 15-6.

No último sábado, 19, enquanto o Sabbath se preparava para voltar dos mortos, eu e o Lorenzo nos dirigmos para o mesmo estádio, da BM, para assistir oq ue parecia ser outro duro confronto do Gauchão: Farrapos vs San Diego. Acordei cedo, cedo pra mim, antes do meio-dia de sábado. Enquanto boa parte do resto do mundo se preocupava com Chelsea x Bayern, eu me preocupava com Leinster vs Ulster. Nem trive tempo de pensar em torcer para um dos dois, apesar de pender mais para a Irlanda católica. O Leinster deu um show já na primeira parte do jogo com Brian O'Driscoll e Sean O'Brien, um servindo o jogo e o outro atropelando a defesa do time norte-irlandês. Apesar de chegar a 14-24 na segunda etapa, o Ulster não siportou a pressão e levou 42-14 no lombo, deixando a festa para seus irmãos sulistas.

Para o estádio levei suco, água, bolachas, salgadinhos e, para voltar no tempo, uma sacola de bergamotas. Como é bom assistir a uma partida do esporte que se gosta comendo bergamotas. Chegamos cedo mas o horário da partida, incerto na página da federação gaúcha, a FGR, era 15h30. Assistimos um try e pensei, bom, dei sortte. Quando está o jogo? Perguntei para alguém próximo. 22-0 sem a conversão. O jogo, que para mim parecia encardido, não tinha chegado ao primeiro quarto e já estava em distantes 22 pontos de diferença. Aos poucos fui descobrindo o porquê. Não que o San Diego não lutasse, lutava, mas o Farrapos jogou uma partida quase perfeita. Não deu sossego nas formações, roubou bolas em rucks, destruiu scrums e se saiu muito bem nos laterais, algo que me preocupava, pois quando assisti os jogos não achava o Farrapos tão bom nos laterais. O primeiro tempo terminou em 34-0 Eu contei 6 tries e 2 conversões.

No segundo tempo não seria diferente. O Farrapos fazia trys tão rápidamente quanto eu e o Lorenzo devorávamos bergamotas. Em certo momento, uma penalidade no meio campo e o Scopel do Farrapos colocou no tee. Pensei, "bom, vai chutar daí"? Foi bonito de ver porque a bola vou certeira no H,  uns 40 metros de distância (se exagero, me desculpem, mas sou torcedor também). Coghetto, pra individualizar, se não vocês vão achar que não sei o nome dos jogadores, sei de alguns, mas ainda falta know-how pra decorar nomes como decoro no futebol, distribuiu bem no meio, e o jogo de mão do Farrapos contribuiu, com jogadas ensaiadas, inversões e velocidade, a estabelecer inacreditáveis 70-0 no San Diego. Eu, que considerava o Farrapos favorito, mas imaginei que a diferença ficaria no máximo nuns 10 pontos, calculei, de cabeça, 11 tries, 6 conversões e um penal, o dos 40 metros. Uma tarde histórica no Partenon.

Não posso engambelar por aqui e não admitir que o Farrapos é favorito para as finais. É. Pega o Novo Hamburgo, que foi atropelado pelo time de Bento por 55-0 na fase inicial, dia 02 de junho, na Montanha. Na outra semifinal, Charrua e San Diego farão um imperdível clássico porto-alegrense. Na mesma pegada o Farrapos pode surpreender no Super10 contra os poderoso clubes paulistas, tanto quanto a seleção de XV já incomoda no Sul-Americano. "Venceu" de 6-19 o Chile no domingo, os chilenos choramingando e arranjando desculpas porque pensavam atropelar o Brasil, e sofreram para vencer com apenas 1 try, sendo a diferença estabelecida nos penais. É, amigo, como diria o narrador mala na TV, não tem mais ninguém bobo no Rugby, não.

 Sem fotos, só Lorenzo brincando de Rugby.


17/04/2012

CHUVA, BARRO, RUGBY!

Sábado de manhã choveu rios em Bento Gonçalves. O Estádio da Montanha, pra quem conhece a cidade, se localiza bem na parte alta da região central. Além de ser o palco principal de jogos do Esportivo, tradicional clube de futebol da cidade hoje brigando para subir para a série A do Gauchão, também em seu currículo sediar uma das únicas partidas de futebol profissional, acho que é a única, disputada sob neve intensa. No dia 30 de maio de 1979 o valente Esportivo de então, sob uma temperatura de 4 graus negativos garantiu um 0x0 clássico, daqueles renhidos de time do interior. Apesar das reclamações do treinador gremista Ornaldo Fantoni:, que o Esportivo "é um time muito violento" ou que era "o jogo mais violento que já vi aqui no sul" aquele Esportivo seria vice-campeão gaúcho, melhor posição do clube na história, e só não párticiparia da Taça Ouro, a série A do Brasileiro, pois "o estádio não teria condições". Hoje o Estádio da Montanha revive seus tempos de força e garra abrigando outro esporte: o Rugby.
Foto do Correio do Povo - Olhem a nevasca!
Chegamos logo depois das quatro da tarde e o Farrapos acabava de concluir a jogada que terminara no quatro try da partida. 26-0 contra o Novo Hamburgo pela terceira rodada do gauchão de Rugby. As velhas arquibancadas tomadas por cerca de 300 torcedores, a maioria do "Farrapo" (sem o "s" como carinhosamente chama a torcida) e alguns do Novo Hamburgo. Ao lado da arquibancada, sob uma lona, uma copa daquelas de jogo de Gauchão de futebol pré-evangelização hipócrita, refrigerante, água e cerveja, tudo sob uma fumaça de salchipão que depois do jogo alimentaria os famintos atletas que se digladiavam no gramado pesado, e artigos de Rugby da SulBack, que faz o uniforme do Farrapos e de outros times do Rio Grande do Sul e do Brasil, movimentada. O público da cidade já se divide entre futebol e Rugby. Noticiário local dá conta que novo estádio do Esportivo, retirado da zona central, com capacidade para 13 mil pessoas, registra no máximo mil torcedores por jogo, e também já sabe muioto do esporte. Sabe tanto que até corneta rola.

Mas se o campo já estava pesado, o que nem de longe deixava insatisfeita torcida e os rugbiers, afinal, nas palavras de Aldo Javier Tamagusuku, proprietário da SulBack, "pode ser que chova o suficiente para deixar o jogo mais emocionante, com cara de rugby gaúcho mesmo", o tempo atendeu seu chamado. O Farrapops já emplacava cruéis 31-0 no NH quando o mundo desabou sobre a Montanha. Durante cerca de meia hora uma intensa chuva caiu sobre o centro de Bento Gonçalves, o campo, psiotaedo nos scrums e nos rucks pelos pesados jogadores das duas equipes, já se transformava em um lodo em certas partes. O Farrapos, com um jogo de base mais forte, vencia o NH nos scrums e, muitas vezes, literalmente empurrava a linha do adversário pra dentro dos seus 22 metros. E dentro dos 22 o Farrapos trabalhava a bola até, depois de muitas fases, abrir uma brecha, na ponta, pelo meio dos forwards, e empílha tries. O 1º tempo fechou 38-0. Eu contei, mas posso estar errado pois cheguei depois do início do jogo, 6 tries sendo 4 convertidos.
NH não desistiu nunca de tentar segurar os de Bento
O segundo tempo começou mais pesado, o NH se defendendo muito bem, segurando como podia o jogo de mão do Farrapos, que pra mim se mostrou bem mais entrosado do que eu esperava, com passes de qualidade, inversões rápidas e até firuals, como passar por trás das costas e derrubar a marcação adversária. Eu sabia que o XV do Farrapos era forte no scrum e, certa vez, conversando com Márcio Melo, manager do clube, ele se disse fã do estilo irlandês de jogar, senti que a aposta, se fosse no futebol diria, esquema tático, do time é jogar forte, na base, e depois trabalhar de mão. Os irlandeses, pelo menos eu observo como torcedor, têm um estilo pesado como o escocês, mas com mais qualidade, como o do atual time nacional galês. Os times irlandeses sempre entram como favoritos nas competições, tanto que nas últimas seis Heineken Cups seus clubes saíram vencedores em quatro. E o que vi sábado foi um jogo de mão muito bom e forwards muito fortes. Tanto que quando o jogo se enroscava fazia muito tempo no 38-0 um try de scrum colocou abaixo o resto das energias do NH. O try de scrum, quando o scrum ultrapassa o ingoal com bola e tudo, é uma das maiores demosntrações de superioridade física de um time sobre outro. O Novo Hamburgo, obviamente, não se entregou, e tentou de todas as formas chegar nos 22 de Bento. Em vão. mais uma jogada e outra e o jogo acabou em acachapantes 55-0, 9 tries, 5 convertidos, e festa da barra dos Farrapos.
Tirei uma antes de acabar a bateria da câmera pra registrar o clima.
Sim, o Farrapos, tem uma barra, a Los Farrapos. Bandeiras, barras, claro, faixas, e cerca de 20 a 30 malucos griatando e cantando o tempo todo, gritos como "sangue, garra, Farrapo", mesmo sob o temporal que caía muitas vezes de lado e fazia com que uma nuvem pousasse sobre as imediações do estádio, deixando a visibilidade curta até mesmo de um lado ao outro do campo. Lá pelas tantas engrenaram um "vieram de Novo Hamburgo pra tomar um chocolatê" com o carcerístico sotaque de Bento. Longe de ser ofensivo, o grito evidencia uma das premissas do Rugby. Jogar sempre pra vencer e respeitar o adversário significa jogar pra marcar tries o tempo todo. Mesmo o NH quando teve chance de cobrar um penalti e tentar sair do zero, era uma bola não muito longe, preferiu sair de kick e partir pro try. O try é o objetivo. Não desistir nunca, mesmo vencedo por 40 pontos de vantagem, é respeito. Não deixar de tentar jamais., mesmo a derrota já sendo inquestionável, é a razão de ser do jogador de Rugby. O Lorenzo berrava junto, bem alto, por pura sentimento de bagunça, meias e tênis encharcados de pular em poças, mas ele sabe que um time que "pegar a bola e sair correndo" e outro "tem que tentar derrubar e roubar a bola". É o básico pra um guri de seis anos de idade entender o esporte.

A torcida de Bento corneteia o juiz nas marcações. "Foi knockon (quando um jogador deixa a bola cair pra frente), juiz mangolão!" Outro grita quando atravessam a linha no scrum: "Saí daí, abobado! Tá errado!" Um princípio de briga rola dentro do campo. Um, jogador ameaça socar outro, levou um pisão num ruck, mas chegam mais dois e fica tudo por isso. Os jogadores de Rugby se esquentam, é do jogo, mas é difícil o jogo descambar pra pancadaria, até porque seria feio se descambasse. Um jogador de Bento se lesiona e a equipe médica entra, a ambulância em dois toques está tirando ele de lá. Pouco minutos depois ele volta de cabeça enfaixada até os ouvidos, abanando e rindo pros seus amigos nas arquibancadas.  Lá pelas tantas, jogada encardida nos 22, e um jogador do Farrapos tenta dar uma de Brian O'Driscoll, centro e capitão da Irlanda, e chuta a bola na diagonal, meia altura, na direção do ingoal para que algum back ultrapasse a linha inimiga e prense a bola em um try, quando um mais gaiato grita: "Porra, Coghetto, mas não inventa, tchê! Pra que fazer isso?" Foi ali que tive certeza de estar no lugar certo. Quando começa a corneta é que se instala a paixão. Se em outro esporte de massa quando se atinge a meta todos ficam satisfeitos, no Rugby não é assim. Quando se atinge o objetivo, na verdade foi só uma tentativa. O objetivo está sempre na próxima tentativa.

Barra do Farrapos não arreda pé debaixo de chuva forte
Mais fotos e informações da partida:
SerraNossa (reportagem) -http://www.serranossa.com.br/editorias/esporte/debaixo-de-chuva-farrapos-goleia-novo-hamburgo/
Fotos do SerraNossa - http://www.serranossa.com.br/serraclick/bento/esportes/farrapos-55x0-novo-hamburgo/1/
SulBack (fotos) - http://sulback.com.br/o_rugby/90/fotos_farrapos_x_novo_hamburgo/
Federação Gaúcha de Rugby (estatísticas) - http://www.fgrugby.com.br/?page_id=504
Informações do "jogo da neve" tiradas de diversas fontes na internet são do Correio do Povo.

(na próxima prometo chegar no horário e com a bateria da câmera carregada)

Dia 5 de maio, a decisão pela liderança do grupo, Charrua x Farrapos, em Porto Alegre.

15/03/2012

Don't Drop the Egg

Faz um tempo que fico de escrever sobre um "documentário" da Sky Sports inglês de 2011, Don't Drop the Egg, sobre um fictício time amador de Rugby do sul de Londres, o Clapham Falcons, que joga na 5ª Divisão, e o dia a dia de três de seus jogadores, na verdade o roteirista, produtor, diretor, que faz o papel de Oliver Blazeby, Dan Jones, e seus dois amigos e companheiros de apartamento, Freddie Shepherd, interpretado pelo comparsas de Dan no empreendimento, Tom Magnus e Archie Curzon, interpretado pelo também comediante Orry Gibbens.

O metido a garanhão camisa 10 Archie que passa o tempo pentelhando a vida do full-back Freddie e de Oliver, camisa 6, às vezes 7, que passa quase o tempo todo com um scrumcap na cabeça. O filme, cerca de 40 minutos dividido em três partes no YouTube, e um extra em cima da Copa do Mundo do ano passado, mostra, entre muitas confusões, os três envolvidos nos treinos, no vestiário, com palavras de ordem ou festeando com mulheres e enchendo a cara, sempre vivendo e respirando Rugby, quase que 24 horas por dia.

No primeiro episódio Archie classifica as prioridades de um jogador de Rugby: Comer, dormir, se exercitar, garotas e Rugby, não necessariamente nesta ordem, mas com o Rugtby sempre em primeiro. Archie é o mais preocupado no visual, no cabelo, no físíco e, claro, em agarrar mulheres, enquanto Oliver, um doente sem noção, chega a interromper uma trepada de Archie para lhe mostrar um try incrível que ele acabou de assistir na TV, enquanto Freddie se contenta em apenas acompanhar os amigos na loucurada.

No segundo episódio, após promessas shakesperianas pelo sangue dos ancestrais o pós jogo atermina num tremendo trago num terceiro tempo totalmente insano, imagino que sejam assim mesmo, ou até pior. Depois me digam, vocês que jogam Rugby de verdade, se está perto da realidade. Obviamente os amigos brigam, como todos bons amigos, os egos entrando em conflito entre o "esperto" Archie, o sério Freddie e o maluco Oliver, os três patetas desta comédia rugbier.

Oliver não larga a bola e nem tira o capacete, nem quando os três fazem as pazes no terceiro episódio indo ao estádio torcer pelo tradicional e simpático Bath Rugby da Premiership inglesa. O que resta de tudo, entre esperanças, frustrações, desejos, é a amizade, que, no fim de tudo é o que move o ser humano a seguir na vida e, obviamente no Rugby, que não deixa de ser prioridade, junto com garotas e bebida, como NÃO disse Archie.

Abaixo os links:

Don'T Drop the Egg - 1ª parte

Don't Drop the Egg - 2ª parte

Don't Drop the Egg - 3ª parte

E, por fim, o especial da Copa do Mundo onde você pode saber tudo o que é preciso para ser um torcedor de Rugby, incluindo até mesmo torcer: Especial Copa do Mundo

11/03/2012

Como Não Treinar Rugby (ou Rugby de Pracinha)

Desde que intensifiquei meu fanatismo pelo Rugby tenho descoberto de tudo, desde identificação e amizades até preconceito e ignorância. Óbvio que cresci jogando, pensando e falando somente de futebol. Teve um certo período da vida que joguei basquete, mas eu era tão ruim quanto era no futebol. Tosco. Enquanto as outras crianças e adolescentes queriam ser atacantes ou meia-armadores eu queria ser zagueiro ou volante. Nunca gostei, até por não ter categoria pra tanto, de jogar do meio pra frente. Meu negócio era colar em alguém, tentar roubar, ou derrubar, e passar adiante. No basquete eu era sempre expulso por cinco faltas. No basquete TUDO é falta. Pra mim, claro.

Como qualquer criança cresci no mundo americanizado da TV e nos filmes sempre apareciam os personagens assistindo ou até jogando futebol americano. Não me atraía. Nem imaginava que existia Rugby. Então fiquei por aí, andando de bicicleta durante anos, quando ser ciclista não era um patido político hipster, até que a noite começou a ficar mais forte que a bicicleta e me atirei nas cordas. Voltei a me exercitar alguns anos depois, até pra combater uma depressão que se avizinhava após a morte do meu pai, na musculação. Perdi 15 quilos, cheguei a pesar 68 kg, e com 28 anos eu era um cadáver ambulante. Em poucos anos recuperei peso e força. Cinco anos depois tinha 83 kg e, apesar de continuar na noite, era um sujeito fisicamente bem.

Mas então veio a paternidade e virei nisso daí (não tem foto aqui, claro). 95 kg em 1m80. E nesse meio tempo visitamos a Argentina, por acaso, durante a Copa do Mundo de Rugby da França de 2007. Desde então tenho cada vez mais me interessado pelo esporte. Tanto quanto futebol. Hoje em dia posso dizer que gosto de ambos quase da mesma maneira. Senti isso hoje quando eu e o Lorenzo fomos na pracinha e primeiro levamos a bola de futebol. Jogamos um pouco, mas o Lorenzo cansa logo, por preguiça mesmo, e voltamos para casa pegar dinheiro para comprar picolé, pra ele, e uma Heineken, pra mim. Na volta levamos a bola de Rugby.

A desculpa é que poderíamos brincar de Rugby. O Lorenzo, como qualquer criança brasileira, é atraído pelo futebol. Tá na escola, na TV, nas ruas, é uma cultura dominante. Preferiu brincar na areia. A verdade é que a criança aqui, como resmunga a minha mulher, Betine, queria a bola de Rugby. Quando peguei a de futebol na mão tive uma sensação estranha. Calma, não foi nenhuma visão divina nem nada do genêro. Foi só que peguei ela com a mão, joguei pra cima e chutei. No momento seguinte me dei conta que eu tava correndo pra pegar. É assim que NÃO treino Rugby. Jogo pra cima e pra frente, com o pé ou com a mão, e saio correndo pra tentar pegar. Primeiro tento pegar no ar, mas se meu chute for longo (mais de 10 metros prum sedentário como eu), espero ela picar e tentar pegar no ar do modo que der, de preferência só com uma das mãos. Já serve pra eu suar a long neck que acabei de tomar. Quando pensei que eu queria pegar a de futebol na mão me senti ao mesmo tempo feliz e um traidor. Um traidor porque eu amo futebol. Feliz porque eu descobri que também amo o Rugby. Confuso, não?

Pois o Lorenzo uma hora pediu pra eu pegar uma flor numa árvore. Deixei a bola com ele e vieram outras criança e pediram pra olhar. As crianças começaram a correr e tentar roubar uma das outras. O Lorenzo também correu atrás. Depois daquilo as outras viram o jogo e um menorzinho, menor que o Lorenzo, que tem quase seis anos, pediu pra jogar. Dei a bola e expliquei que o jogo era correr, o outro tentar roubar e largar num lugar pra fazer ponto. Em pouco tempo ele e o Lorenzo já estavam correndo. Apareceram mais duas gurias e já eram um cinco. Eu jogava a bola pra eles correrem atrás e tentar passar por mim pra fazer o ponto. Durou uns 10 minutos o jogo. O tempo suficiente pro Lorenzo cair no chão, esfolar o joelho na areia e voltar chorando.

Com a partida suspensa voltamos pra casa, o Lorenzo com a bola de Rugby na mão dizendo que na próxima ia furar a bola, ou jogar no colégio que tem do lado da pracinha. Obviamente ele estava brabo por ter se esfolado. Eu tentei argumentar que no futebol também se esfola. Que quando eu era criança vivia com os joelhos rasgados e as canelas cheias de tocos dos adversários. Mas ele não acreditou. Não vou insistir. O espírito rebelde dele eu já conheço. Vai dizer que não só pra me vencer. Espero que ele seja como eu: um tosco com alma. O Rugby é jogado por toscos com alma. Descobri tarde demais? Não sei. O tempo dirá, como sempre. Se o Lorenzo vai se interessar? Espero que sim. Mas não vou forçar. Se quisesse jogar minhas frustrações nele comprava uma bateria porque eu queria era ser baterista, outra forma de jogar Rugby. Só me restou a literatura, mas não me dou bem com os escritores. É tudo meio confuso? É. Como o Rugby. Simples, mas complicado.

05/03/2012

Blog de torcedora do Farrapos

Como faz tempo que não publico nada por aqui aproveito pra deixar uma dica pra quem gosta de Rugby e quer saber TUDO sobre o Farrapos, clube bicampeão gaúcho e participante do Super10 nacional, o blog da Stéphany Bof, http://soufarrapos.blogspot.com/ onde ela conta também suas experiências e expectativas como torcedora de Rugby, inclusive acompanhando o dia-a-dia do clube.

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