29/09/2011

O Rugby é Simples, Mas Complicado.

Desde que comecei a acompanhar com mais frequência o rugby, mesmo que espaçadamente por alguns jogos que a ESPN resolve mostrar, principalmente a Tri Nations e a Heineken Cup, uma das coisas que mais salta aos olhos, e me faz ter referência o tempo todo, é, claro, o parentesco de berço do rugby com o futebol. E é natural este parentesco. Não só pela origem do regramento dos esportes, mas também por acompanhar o crescimento do meu filho.

Peguem uma criança, qualquer, que tenha recém começado a andar e jogue uma bola. O normal e óbvio no Brasil é dizer "chuta". E se o guri não chuta o pai vai lá e joga de novo e repete, repete e repete até que o guri (ou a guria, sem sexismo) chuta. Isto é futebol. Mas experimente não falar nada. A criança pega a bola com as mãos e sai correndo. O instinto dela faz com que ela fuja com a bola nas mãos. Isto é rugby. O instinto é rugby. Futebol vem depois.

Claro que simplifiquei bastante, mas o lance aqui é literatura, então me permito delírios. O rugby é, ao contrário do que parece num primeiro momento para olhos acostumados a assistir futebol, um esporte muito mais coletivo que o jogado somente com os pés. Imagine no futebol uma linha de jogadores trocando passes e abrindo espaços para chegar ao gol do adversário? E só podendo passar a bola para os lados ou para a frente? O futebol seria outro, mesmo que com os pés, pois uma das características do futebol, e existem muitos teóricos que já falarm sobre isso, é o famoso ponto futuro. No rugby não existe ponto futuro. O futuro é aqui. É concreto.

Logo os jogadores tem que ter uma capacidade coletiva muito maior que no futebol. Um jogador pode abrir espaço ou roubar uma bola e fazer um try, mas o normal não funciona assim. No futebol as individualidades muitas vezes se subtraem um função do que chamam "futebol-arte" , mas que grande parte das vezes não passa de individualismo e estrelismo. Para um sujeito como eu, com quarenta anos, que sempre tentei ser um esforçado (boa vontade) zagueiro o rugby se torna uma descoberta tardia pois, a despeito de dizerem ser um esporte bruto (e é), é mais democrático. A habilidade está muito mais em se organizar e abrir espaços que propriamente criar uma jogada fenomenal de habilidade sobrenbatural. Existem craques no rugby, mas nem de longe suas influências ou nomes têm a projeção que existe em outros esportes.

Este espírito de equipe é que me chamou mais atenção em tudo, ainda mais para um também adorador do futebol acostumado a esperar que jogadas geniais apareçam e façam com que meu time vença. No rugby elas também surgem, mas o instinto se alia à rapidez no raciocínio. O raciocínio tático no rugby tem muito mais importância, imagino eu, que equipes que tendo jogadores em plenas condições físicas possam ter muito mais possibilidades se diferenciarem-se por terem jogadores com raciocínio rápido. Ou seja, o rugby é um esporte bruto marginalizado pelos que ainda não abriram suas mentes para as possibilidades intermináveis de jogadas que nele podem ocorrer. Rugby é intelecto e força. Um xadrez de músculos, velocidade e agilidade.

O rugby é simples, mas complicado.

Como a vida.

Abaixo os melhores momentos daquela que é considerada uma das mais emocionantes partidas da história do rugby moderno.

21/09/2011

Uma Tarde na Montanha

Chegamos, eu, mulher e filho, ao Estádio da Montanha, antiga sede do time de futebol do Esportivo, no centro de Bento Gonçalves, pouco depois do início da partida entre o mandante Farrapos Rugby Clube e o San Luis Rugby Clube, de Novo Hamburgo. As cansadas arquibancadas de concreto do estádio, outrora espectadora de batalhas épicas de um renhido Gauchão, onde era quase improvável a dupla grenal arrancar uma vitória do "isssportívu", recebiam um pequeno público de cerca de 100 torcedores.

Entrada franca, esporte amador, uma tenda com artigos esportivos relacionados ao rugby e um ambiente quase familiar revestiam a tarde nublada na Serra. Fui ao posto do outro lado da rua, comprei uma coca, salgadinhos, um kinder ovo pro guri se aquietar e uma Heineken pra mim, só pra manter a base. Logo de cara o nosso time, afinal torcemos para o time de Bento, claro, sofreu um try. O Lorenzo, meu filho, me fez perder a noção se a conversão tinha sido certeira ou não e demorei mais um tempo para descobrir onde estava o placar da partida. Estava do outro lado com plaquetas no chão mesmo.


Na verdade demorei para saber quem era o adversário. Não fosse a torcida deles, que fazia muito barulho, basicamente mulheres, que poderiam ser mulheres, namoradas ou mães dos jogadores, berrar o tempo todo "sanluis, sanluis" e teria que perguntar quem era o adversário. Lorenzo pediu para ir ao banheiro, atrás das arquibancadas e ficamos por lá o primeiro tempo enquanto ele preferia se divertir caçando insetos.

O jogo, que me disseram ser Copa RS, mas não descobri na internet do que se tratava, se amistoso ou torneio, foi dividido em quatro quartos de 20 minutos ao invés de dois tempos de 40 minutos como é o normal. O entretempo era menor que o intervalo e no primeiro acredito que o placar era 5 a 3 para o San Luis. O Farrapos tentava chegar na linha de 22 adversária mas era sempre truncado e obrigado a ceder campo. Numa destas obteve 3 pontos numa cobrança de pênalti.


No segundo quarto a marcação do San Luis continuou firme e o Farrapos pecava nas cobranças de lateral ou perdia a posse da bola em passes errados. O rugby é um esporte que obriga os jogadores a avançarem a linha e trocarem passes cada vez mais precisos e qualquer erro resulta, algumas vezes, em um contra-ataque fatal do adversário. Foi o que aconteceu e numa escapada o San Luis marcou um try e logo após converteu os dois pontos extras no chute direto.

Em mais um erro de passe e posicionamento o San Luis avançou e, de ruck em ruck, chegou a mais um try e uma conversão. O Farrapos, por sua vez, quando estava próximo de marcar o seu try, sofreu uma providencial falta, estratégia sempre válida para travar o try adversário, e optou pelos 3 pontos do penalti para diminuir a diferença. Assim o primeiro tempo terminou 19 x 6 para o San Luis. Três trys contra nenhum do Farrapos.


Na segunda etapa o Farrapos acertou a marcação e começou a avançar. Não sabia se era o time titular ou não deles, mas, enfim, jogo é jogo, e os bicampeões foram pra cima enquanto o fogo  do churrasco do terceiro tenpo aceso embaixo das arquibancadas e uma providencial cerveja era gelada no que um dia deve ter sido o bar do estádio.

O time da Serra aos poucos começou a ganhar terreno e acertar os passes dos laterais e vencer nas formações de scrum, mesmo assim sempre sendo travados e correndo o risco de sofrer os mesmo contra-ataques que lhe valiam a derrota momentânea. Mas foi numa roubada de bola em seu campo que o Farrapos avançou em direção ao try e seu jogador foi faltosamente derrubado com um golpe no pescoço. Adentro aqui já leis que ainda não compreendo direito, mas acredito que foi marcado o try e o penalti. Um penalti try. Convertido o chute e o placar se alterou para 19 x 13 para o San Luis.

Os últimos minutos se resumiram ao truncamento de jogadas pelo San Luis e seguidos laterais e scrums até que a equipe de Vale dos Sinos segurasse o resultado e a torcida feminina pudesse vibrar histericamente. A essas alturas eu estava colado na tela torcendo e a Betine, minha mulher, resmungando contra as mulheres da torcida adversária que não paravam de apoiar. A torcida de Bento, alguns jogadores que não estavam participando naquele dia, se resumia a, brincando, pedir o fim da partida para apreciar o quanto antes o churrasco pós-jogo.

Lorenzo assistiu e não assistiu o jogo. É natural em uma criança de cinco anos de idade. O público, entre latinhas de cerveja e cuias de chimarrão aproveitou a tarde nublada mas agradável e seca de sábado. Eu me senti em casa. Estádio pequeno, torcida acolhedora e jogo disputado, mesmo que um outro safanão na orelha ilegal tenha sido desferido, e o árbitro não tenha visto, claro. O rubgy é um jogo mais leal que o futebol.

Para nos separamos de nossa nascente fama de pé-frios voltaremos ao Estádio da Montanha o quanto antes. E, certamente, o Farrapos vencerá. Enquanto isso me contento em perder horas de sono e acompanhar a Copa do Mundo de Rugby. Gosto das equipes que defendem com fome e atacam em velocidade. Os All Blacks, claro, são muito rápidos, mas gosto mais dos argentinos e dos britânicos. Acho mais divertido um 19 x 13 que um 49 x 10. É uma tendência. E um desejo.


TRY AGAINST!!!

20/09/2011

Adentrando o Universo do Rugby

Em setembro de 2007 eu e minha mulher tiramos alguns dias de férias, ainda nos permitíamos isso, e passamos uma semana em Buenos Aires. O acaso nos fez passear pelos bares, nosso trajeto mais costumeiro, de Palermo, justamente na época da Copa do Mundo de Rugby na França.

Enquanto esperávamos ser atendidos, o que muitas vezes demorava, e não nos interessava a pressa, os bares movimentam-se às tarde com os jogos que eram transmitido ao vivo. Foi quando comecei a me interessar mais pelo rubgy, ali, em Buenos Aires, vendo a veneração dos argentinos pelos Pumas, como eles chamam a seleção nacional deles.

Quando era criança meu pai adorava contar histórias, ele era um bom contador de histórias e muitas vezes exagerava, o que tornava a história ainda mais interessante, que quando serviu no exército na década de 1950 jogava "futebol americano". Obviamente ele jogava rugby, visto que é um jogo de estratégia e conquista de território e serve muito bem para o treinamento de infantaria.

Com o tempo, e a influência do cinema norte-americano, o rugby tornou-se para mim, e para a maioria dos brasileiros, um fantasma. Futebol americano, a NFL como está na moda entre muitos aficcionados de estatísticas, e onanistas do gênero, nunca me interessou. Acho um exagero aquela montanha de intervalos comerciais e aquela parafernália que usam para jogar.

Mas, a partir desta Copa do Mundo, com o rugby, que desde 1987 decidiu aos poucos se profissionalizar e internacionalizar, seguindo o caminho de seu irmão de origem, o football association, ou o futebol jogado unicamente com os pés como conhecemos, fui pouco a pouco me adentrando ainda mais no universo rugby.

Ainda não entendo muitas marcações de faltas e não consegui distinguir em qual posição joga este ou aquele e sua função básica no campo, mas já aprendi o básico da pontuação e de como me tornar um torcedor. Com o aumento das trasmissões da Tri Nations, da Heineken Cup e da Six Nations fui me familiriazando com os termos e jogadas.

Para aumentar ainda mais meu interesse jogadores da cidade natal da minha mulher organizaram sua própria equipe, o Farrapos, que veio a tornar-se bicampeão gaúcho de rugby e a primeira equipe gaúcha a participar do campeonato nacional de rugby. E, não nego, a cultura do esporte, que faz com que os participantes organizem o tradicional terceito tempo, quando as equipes confraternizam, churrasco e cervejas amigos, e trocam ideias e experiências em um ambiente de camaradagem, me atrai, afinal cerveja e amizade são coisas com as quais gosto de conviver.

O que tenho a dizer sobre o rugby? É um esporte de contato, velocidade, estratégia e, sim, uma grande variedade de jogadas e movimentação intensa. A primeira impressão que passa é que um esporte brutal, mas não é. É um esporte viril, sim, mas que deve ser jogado com inteligência, tanto que as grandes equipes são as que melhor se defendem, e usam esta defesa para em rápidas avançadas para pegar desprevenida e encontrar buracos na equipe adversária. Técnica e velocidade são tão ou mais importantes que a força física.

Eu nunca pratiquei, mas tenho vontade, obviamente que só por diversão. E observar e torcer na beira do campo, como explicarei numa próxima postagem.

(Comentários e auxílios são muito bem-vindos. A intenção deste blog é aprender cada vez mais sobre o esporte e fazer com que cada vez mais pessoas se intreressem pelo rugby.)