21/09/2011

Uma Tarde na Montanha

Chegamos, eu, mulher e filho, ao Estádio da Montanha, antiga sede do time de futebol do Esportivo, no centro de Bento Gonçalves, pouco depois do início da partida entre o mandante Farrapos Rugby Clube e o San Luis Rugby Clube, de Novo Hamburgo. As cansadas arquibancadas de concreto do estádio, outrora espectadora de batalhas épicas de um renhido Gauchão, onde era quase improvável a dupla grenal arrancar uma vitória do "isssportívu", recebiam um pequeno público de cerca de 100 torcedores.

Entrada franca, esporte amador, uma tenda com artigos esportivos relacionados ao rugby e um ambiente quase familiar revestiam a tarde nublada na Serra. Fui ao posto do outro lado da rua, comprei uma coca, salgadinhos, um kinder ovo pro guri se aquietar e uma Heineken pra mim, só pra manter a base. Logo de cara o nosso time, afinal torcemos para o time de Bento, claro, sofreu um try. O Lorenzo, meu filho, me fez perder a noção se a conversão tinha sido certeira ou não e demorei mais um tempo para descobrir onde estava o placar da partida. Estava do outro lado com plaquetas no chão mesmo.


Na verdade demorei para saber quem era o adversário. Não fosse a torcida deles, que fazia muito barulho, basicamente mulheres, que poderiam ser mulheres, namoradas ou mães dos jogadores, berrar o tempo todo "sanluis, sanluis" e teria que perguntar quem era o adversário. Lorenzo pediu para ir ao banheiro, atrás das arquibancadas e ficamos por lá o primeiro tempo enquanto ele preferia se divertir caçando insetos.

O jogo, que me disseram ser Copa RS, mas não descobri na internet do que se tratava, se amistoso ou torneio, foi dividido em quatro quartos de 20 minutos ao invés de dois tempos de 40 minutos como é o normal. O entretempo era menor que o intervalo e no primeiro acredito que o placar era 5 a 3 para o San Luis. O Farrapos tentava chegar na linha de 22 adversária mas era sempre truncado e obrigado a ceder campo. Numa destas obteve 3 pontos numa cobrança de pênalti.


No segundo quarto a marcação do San Luis continuou firme e o Farrapos pecava nas cobranças de lateral ou perdia a posse da bola em passes errados. O rugby é um esporte que obriga os jogadores a avançarem a linha e trocarem passes cada vez mais precisos e qualquer erro resulta, algumas vezes, em um contra-ataque fatal do adversário. Foi o que aconteceu e numa escapada o San Luis marcou um try e logo após converteu os dois pontos extras no chute direto.

Em mais um erro de passe e posicionamento o San Luis avançou e, de ruck em ruck, chegou a mais um try e uma conversão. O Farrapos, por sua vez, quando estava próximo de marcar o seu try, sofreu uma providencial falta, estratégia sempre válida para travar o try adversário, e optou pelos 3 pontos do penalti para diminuir a diferença. Assim o primeiro tempo terminou 19 x 6 para o San Luis. Três trys contra nenhum do Farrapos.


Na segunda etapa o Farrapos acertou a marcação e começou a avançar. Não sabia se era o time titular ou não deles, mas, enfim, jogo é jogo, e os bicampeões foram pra cima enquanto o fogo  do churrasco do terceiro tenpo aceso embaixo das arquibancadas e uma providencial cerveja era gelada no que um dia deve ter sido o bar do estádio.

O time da Serra aos poucos começou a ganhar terreno e acertar os passes dos laterais e vencer nas formações de scrum, mesmo assim sempre sendo travados e correndo o risco de sofrer os mesmo contra-ataques que lhe valiam a derrota momentânea. Mas foi numa roubada de bola em seu campo que o Farrapos avançou em direção ao try e seu jogador foi faltosamente derrubado com um golpe no pescoço. Adentro aqui já leis que ainda não compreendo direito, mas acredito que foi marcado o try e o penalti. Um penalti try. Convertido o chute e o placar se alterou para 19 x 13 para o San Luis.

Os últimos minutos se resumiram ao truncamento de jogadas pelo San Luis e seguidos laterais e scrums até que a equipe de Vale dos Sinos segurasse o resultado e a torcida feminina pudesse vibrar histericamente. A essas alturas eu estava colado na tela torcendo e a Betine, minha mulher, resmungando contra as mulheres da torcida adversária que não paravam de apoiar. A torcida de Bento, alguns jogadores que não estavam participando naquele dia, se resumia a, brincando, pedir o fim da partida para apreciar o quanto antes o churrasco pós-jogo.

Lorenzo assistiu e não assistiu o jogo. É natural em uma criança de cinco anos de idade. O público, entre latinhas de cerveja e cuias de chimarrão aproveitou a tarde nublada mas agradável e seca de sábado. Eu me senti em casa. Estádio pequeno, torcida acolhedora e jogo disputado, mesmo que um outro safanão na orelha ilegal tenha sido desferido, e o árbitro não tenha visto, claro. O rubgy é um jogo mais leal que o futebol.

Para nos separamos de nossa nascente fama de pé-frios voltaremos ao Estádio da Montanha o quanto antes. E, certamente, o Farrapos vencerá. Enquanto isso me contento em perder horas de sono e acompanhar a Copa do Mundo de Rugby. Gosto das equipes que defendem com fome e atacam em velocidade. Os All Blacks, claro, são muito rápidos, mas gosto mais dos argentinos e dos britânicos. Acho mais divertido um 19 x 13 que um 49 x 10. É uma tendência. E um desejo.


TRY AGAINST!!!

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