De um ano pra cá entrei numa espiral de acompanhar o esporte que já teve duas consequências. Uma é me tornar referência entre os amigos e conhecidos que não sabem nada do esporte. A segunda é começar a sofrer com o estranhamento sobre o porquê de alguém que até alguns anos atrás falava só de futebol e agora falava mais da metade do tempo sobre Rugby. É complicado explicar sem que se conheça o esporte antes. Primeiro reação, óbvia, e preconceituosa, é que é um esporte violento. Não é. É tão ou mais violento que o futebol. Obviamente é mais violento que o vôlei, um esporte quase sem contaTo, mas todo o esporte coletivo de contato, futebol, basquete (que não joguei nada durante alguns anos na infância) e Rugby, entre outros, envolve a disputa pela bola e pela posse de espaços no campo ou na quadra. É uma disputa de território. O que diferencia o Rugby é na disputa pela bola a possibilidade de se derrubar, tacklear, ou empurrar, num ruck ou num scrum, o adversário para dentro de sua meta. Só. Mas existem regras para isso. Não se póde ultrapassar a "linha inimiga", uma linha imaginária atrás do pé do último homem de sua própria linha. Nãso se pode invadir pelos lados. Não se pode pegar o jogador sem os pés no chão (no ar), derrubá-lo sem a posse de bola (aqui uma diferença crucial do futebol americano), impedir o avanço da jogada com obstruções (como no futebol). Enfim, existem regras. E posso garantir que, independente de falhas da arbitragem, que existem em qualquer esporte, as regras no Rugby são mais seguidas que em muito esporte que proclama a arte, mas também estimula e premia a falcatrua.
Imagem geral antes do começo da partida,
fumaça do churras ao lado da arquibancada.
O jogo mal começou, falo de memória, acredito que aos 10, ou 12 minutos, da primeira etrapa, o Charrua pressionando desde o início e jogando o Farrapos contrra o seu próprio campo, deixava evidente que queria largar, e logo, com um try De Daniel Blanquito sobre a até então no campeonato invencível defesa de Bento. E foi assim que depois de muita briga, empurrões, na base da força mesmo, que o Charrua escapou da marcação farrapa e meteu um try que desnortearia por algum tempo o time da casa. O Farrapos demorou a conectar no jogo, mas aos poucos foi tentando reativar seu característico jogo de chão e scrum que muitas vezes foi o diferencial em suas vitórias mais suadas. Forçando o erro do adversário e tentando se aproximar do ingoal índio o Farrapos, armando uma jogada pelo meio, dividiu a a atenção adversária e sobrou para Scopel acertar um drop goal e diminuir a diferença para 5-3. Uma leve garoa começou a baixar a temperatura gradativamente, de um clima ameno passou em menos de meia hora para um clima nebuloso e frio, ou seja, virou o tempo entre a metade do priomeiro tempo e o intervalo. A bola, já de difícil domínio nas disputas aéreas por ser oval, ficava ainda mais fora de controle com a umidade.
A partida seguia perigosa para o Farrapos, com o Charrua sempre forçando uma escapada de contra-ataque pelas laterais, mmas também com muita combatividade no chão e nas tramas pelo meio de campo, com ligeira vantagem para o Farrapos, forçando o Charrua a ter que disputar a bola no limite. E, no Rugby, quando alguém tem que disputar pore muito tempo a bola no limite, acaba cometendo faltas, seja invadindo a formação inimiga. Quando a partida já estava nos acréscimos, o Charrua cometeu uma penalidade. Scopel não perdeu a oportunidade e converteu os 3 pontos quase da intermediária. Farrapos 6-5 e um intervalo nervoso e vibrante entre as torcidas que faziam a festa na Montanha. Enquanto a Betine aguardava na fila do banheiro, mulheres com frio ávidas por um vaso sanitário, peguei mais uma cerveja e fiquei conversando com o Diogo Filippon, repórter e fotógrafo do Leouve (reportagem com fotos no link do site ) e ainda não acostumado com os intervalos mais curtos no Rugby que no futebol, olhei pra dentro do campo e já tinha iniciado a segunda etapa. Mal me ajeitei na linha de fundo, colado na grade, e o Farrapos cometeu uma falta e sofreu 3 pontos num penal bem cobrado pelo Charrua. 8-6. Começava o martírio da torcida de Bento.
Lateral cobrada para o Farrapos, primeiro tempo,
time de Bento em desvantagem.
A torcida do Charrua, animada e vibrante, cantava e se fazia ouvir pelo estádio. A torcida farrapa gritava e fazia uma baderna do bem na arquibancada contrária. A Betine, nervosa, ficou fumando sozinha atrás de um H enquanto eu fui pra grade. Não consigo ficar sentado assistiundo quando encarde um jogo. Eu vou pra grade. Larguei bandeira e fui lá na lateral acompanhar as jogadas. Dava vontade de entrar em campo e empurrar junto aquela bola pra dentro do ingoal porto-alegrense. Culpa da Betine, eu, um porto-alegrense maldito, com o mais grudento sotaque das Osvaldo Aranha da vida, ali, torcendo contra minha própria "pátria", mas fazer o que? Essas coisas de paixão esportiva não têm lógica. Minha bandeira da barra foi pra banha, alguém levou pra fazer festa. Um sujeito que observou só disse: "É 2011, amigo. É assim." Nem questionei falar pra ele que já estamos em 2012. O Farrapos forçava, como sempre, e tentava cavar um buraco na forte defesa charrua, sem sucesso, restava forçar o erro. Numa bola na meia-direita o Charrua cometeu a falta, o jogo já descambava, natural para um final, para o nervosismo e os afagos de parte a parte. Scopel se preparou, poderia ser a virada, e quando ele tocou na bola na hora vi que aquela tinha ido muito mal. E foi. Nem chegou na linha dos 5 metros. Mais um tempo, o relógio passando,quase 30 do segundo tempo, e mais uma falta pro Farrapos.Quase frontal. Scopel ajeitou e o meu lado da arquibancada vgiobrou como se fosse um chute certeiro. Mas os bandeirinhas nem tchum. Foi por fora do H. Continuava 8-6. Até que faltando 7 minutos para o final, o Farrapoos conseguiu empurrar a linha adversária para perto de sua meta, e na imposição física, fez um histórico try quase rente ao chão. Try de Pequeno e uma conversão, dessa vez, em cheio, de Scopel. Farrapos 13-8. Restava ao Charrua partir pro try, agredir, e vender caro a derrota, como vendeu, jogando até o último instante, em cima do Farrapos, e valorizando, e muito, o inédito tricampeonato do caçula dos campeões gaúchos, 5 anos incompletos e já maior campeão regional e único representante do estado na elite nacional.
Festa da barra Los Farrapos! Loucura!
Festa nas arquibancads, foguetório, sinalizadores, rolos de papel higiênico voando, o garrafão de vinho pulando de mão em mão, a gurizada em cima da grade, a foto Amado Batista tremulando (alguém me explica qual o significa do Amado Batista pra barra farrapa), invasão de campo, foto com todos pulando, se jogando chão, loucura geral. Depois a entrega das premiações, algum resmungo com a arbitragem, a meia-boca, mas eu não notei nada e não acredito que a arbitragem tenha interfeirido no resultado, reportagem da TV em campo, já que a prometida transmissão ao vivo não rolou, a reportagem para os programas de esporte se fez presente, o churrasco fumegando na lateral cerveja e champanha rolando de mão em mão entre os jogadores, tanto vencedores quanto vencidos e o terceiro tempo que se avizinhava. Pra mim e pra Betine o terceiro tempo seria à noite, no Ferrovia Cult, bar que tem a mesma idade que o Farrapos, cerveja, rock e os amigos falando bobagem, Betine bebendo na taça pra dar sorte, eu derrubando a cerveja da mesma, e a certeza que estamos vivendo dias históricos desse esporte que um dia será grande no Brasil. Podem acreditar e me cobrar.
Betine bebendo na taça. Rumo ao tetra?