19/06/2012

FRIO, RUGBY E CERVEJA - A CONQUISTA DO TRI

Chegamos cedo na Montanha, eu e a Betine. Olhar as camisetas da tenda da Sul Back, que fornece o material esportivo do Farrapos, tomar uma cerveja, encontrar os amigos e se acostumar ao ambiente de decisão. Na preliminar o Sanm Diego vencia o Novo Hamburgo por 27-10, no final venceria por 30-22, e seria coroado com o terceiro lugar no pódio do Gauchão de Rugby. Quando perguntado o que achava da final por um torcedor mais confiante do Farrapos, respondi: Vai ser encardido. Antes não tivesse dito. Foi. Mas, antes das emoções da partida, cabe falar mais um pouco sobre alguns aspectos do companheirismo, até certo ponto, claro, pois também tem um título em jogo e ninguém gosta de perder, ao lado da arquibancada principal do estádio, coberto por uma lona, era assado um churrasco de chão, costelão e paletismo virado contra as brasas rentes ao píso, aguardando o terceiro tempo, tradição do esporte, momento em que os adversários de campo confraternizam abaixo de, quase sempre, muita cerveja, e no caso brasileiro, muita carne.

De um ano pra cá entrei numa espiral de acompanhar o esporte que já teve duas consequências. Uma é me tornar referência entre os amigos e conhecidos que não sabem nada do esporte. A segunda é começar a sofrer com o estranhamento sobre o porquê de alguém que até alguns anos atrás falava só de futebol e agora falava mais da metade do tempo sobre Rugby. É complicado explicar sem que se conheça o esporte antes. Primeiro reação, óbvia, e preconceituosa, é que é um esporte violento. Não é. É tão ou mais violento que o futebol. Obviamente é mais violento que o vôlei, um esporte quase sem contaTo, mas todo o esporte coletivo de contato, futebol, basquete (que não joguei nada durante alguns anos na infância) e Rugby, entre outros, envolve a disputa pela bola e pela posse de espaços no campo ou na quadra. É uma disputa de território. O que diferencia o Rugby é na disputa pela bola a possibilidade de se derrubar, tacklear, ou empurrar, num ruck ou num scrum, o adversário para dentro de sua meta. Só. Mas existem regras para isso. Não se póde ultrapassar a "linha inimiga", uma linha imaginária atrás do pé do último homem de sua própria linha. Nãso se pode invadir pelos lados. Não se pode pegar o jogador sem os pés no chão (no ar), derrubá-lo sem a posse de bola (aqui uma diferença crucial do futebol americano), impedir o avanço da jogada com obstruções (como no futebol). Enfim, existem regras. E posso garantir que, independente de falhas da arbitragem, que existem em qualquer esporte, as regras no Rugby são mais seguidas que em muito esporte que proclama a arte, mas também estimula e premia a falcatrua.

 Imagem geral antes do começo da partida, 
fumaça do churras ao lado da arquibancada.

O jogo mal começou, falo de memória, acredito que aos 10, ou 12 minutos, da primeira etrapa, o Charrua pressionando desde o início e jogando o Farrapos contrra o seu próprio campo, deixava evidente que queria largar, e logo, com um try De Daniel Blanquito sobre a até então no campeonato invencível defesa de Bento. E foi assim que depois de muita briga, empurrões, na base da força mesmo, que o Charrua escapou da marcação farrapa e meteu um try que desnortearia por algum tempo o time da casa. O Farrapos demorou a conectar no jogo, mas aos poucos foi tentando reativar seu característico jogo de chão e scrum que muitas vezes foi o diferencial em suas vitórias mais suadas. Forçando o erro do adversário e tentando se aproximar do ingoal índio o Farrapos, armando uma jogada pelo meio, dividiu a a atenção adversária e sobrou para Scopel acertar um drop goal e diminuir a diferença para 5-3. Uma leve garoa começou a baixar a temperatura gradativamente, de um clima ameno passou em menos de meia hora para um clima nebuloso e frio, ou seja, virou o tempo entre a metade do priomeiro tempo e o intervalo. A bola, já de difícil domínio nas disputas aéreas por ser oval, ficava ainda mais fora de controle com a umidade.

A partida seguia perigosa para o Farrapos, com o Charrua sempre forçando uma escapada de contra-ataque pelas laterais, mmas também com muita combatividade no chão e nas tramas pelo meio de campo, com ligeira vantagem para o Farrapos, forçando o Charrua a ter que disputar a bola no limite. E, no Rugby, quando alguém tem que disputar pore muito tempo a bola no limite, acaba cometendo faltas, seja invadindo a formação inimiga. Quando a partida já estava nos acréscimos, o Charrua cometeu uma penalidade. Scopel não perdeu a oportunidade e converteu os 3 pontos quase da intermediária. Farrapos 6-5 e um intervalo nervoso e vibrante entre as torcidas que faziam a festa na Montanha. Enquanto a Betine aguardava na fila do banheiro, mulheres com frio ávidas por um vaso sanitário, peguei mais uma cerveja e fiquei conversando com o Diogo Filippon, repórter e fotógrafo do Leouve (reportagem com fotos no link do site  ) e ainda não acostumado com os intervalos mais curtos no Rugby que no futebol, olhei pra dentro do campo e já tinha iniciado a segunda etapa. Mal me ajeitei na linha de fundo, colado na grade, e o Farrapos cometeu uma falta e sofreu 3 pontos num penal bem cobrado pelo Charrua. 8-6. Começava o martírio da torcida de Bento.

 Lateral cobrada para o Farrapos, primeiro tempo, 
time de Bento em desvantagem.

A torcida do Charrua, animada e vibrante, cantava e se fazia ouvir pelo estádio. A torcida farrapa gritava e fazia uma baderna do bem na arquibancada contrária. A Betine, nervosa, ficou fumando sozinha atrás de um H enquanto eu fui pra grade. Não consigo ficar sentado assistiundo quando encarde um jogo. Eu vou pra grade. Larguei bandeira e fui lá na lateral acompanhar as jogadas. Dava vontade de entrar em campo e empurrar junto aquela bola pra dentro do ingoal porto-alegrense. Culpa da Betine, eu, um porto-alegrense maldito, com o mais grudento sotaque das Osvaldo Aranha da vida, ali, torcendo contra minha própria "pátria", mas fazer o que? Essas coisas de paixão esportiva não têm lógica. Minha bandeira da barra foi pra banha, alguém levou pra fazer festa. Um sujeito que observou só disse: "É 2011, amigo. É assim." Nem questionei falar pra ele que já estamos em 2012. O Farrapos forçava, como sempre, e tentava cavar um buraco na forte defesa charrua, sem sucesso, restava forçar o erro. Numa bola na meia-direita o Charrua cometeu a falta, o jogo já descambava, natural para um final, para o nervosismo e os afagos de parte a parte. Scopel se preparou, poderia ser a virada, e quando ele tocou na bola na hora vi que aquela tinha ido muito mal. E foi. Nem chegou na linha dos 5 metros. Mais um tempo, o relógio passando,quase 30 do segundo tempo, e mais uma falta pro Farrapos.Quase frontal. Scopel ajeitou e o meu lado da arquibancada vgiobrou como se fosse um chute certeiro. Mas os bandeirinhas nem tchum. Foi por fora do H. Continuava 8-6. Até que faltando 7 minutos para o final, o Farrapoos conseguiu empurrar a linha adversária para perto de sua meta, e na imposição física, fez um histórico try quase rente ao chão. Try de Pequeno e uma conversão, dessa vez, em cheio, de Scopel. Farrapos 13-8. Restava ao Charrua partir pro try, agredir, e vender caro a derrota, como vendeu, jogando até o último instante, em cima do Farrapos, e valorizando, e muito, o inédito tricampeonato do caçula dos campeões gaúchos, 5 anos incompletos e já maior campeão regional e único representante do estado na elite nacional.

 Festa da barra Los Farrapos! Loucura!

Festa nas arquibancads, foguetório, sinalizadores, rolos de papel higiênico voando, o garrafão de vinho pulando de mão em mão, a gurizada em cima da grade, a foto Amado Batista tremulando (alguém me explica qual o significa do Amado Batista pra barra farrapa), invasão de campo, foto com todos pulando, se jogando chão, loucura geral. Depois a entrega das premiações, algum resmungo com a arbitragem, a meia-boca, mas eu não notei nada e não acredito que a arbitragem tenha interfeirido no resultado, reportagem da TV em campo, já que a prometida transmissão ao vivo não rolou, a reportagem para os programas de esporte se fez presente, o churrasco fumegando na lateral cerveja e champanha rolando de mão em mão entre os jogadores, tanto vencedores quanto vencidos e o terceiro tempo que se avizinhava. Pra mim e pra Betine o terceiro tempo seria à noite, no Ferrovia Cult, bar que tem a mesma idade que o Farrapos, cerveja, rock e os amigos falando bobagem, Betine bebendo na taça pra dar sorte, eu derrubando a cerveja da mesma, e a certeza que estamos vivendo dias históricos desse esporte que um dia será grande no Brasil. Podem acreditar e me cobrar.

Betine bebendo na taça. Rumo ao tetra?