12/09/2012

Lutando Contra os Números

Um blog como este, de um neófito no Rugby tentando compreender o esporte, poderia simplesmente se resumir a exaltar a beleza do esporte, que está além das jogadas, dos dribles de corpo, daquele chute que pega a defesa adversária desprevenida e resulta em um try dos mais saborosos. Ainda não chegamos na ebulição do Rugby no Brasil. Eu diria que a temperatura da fervura da subindo, mas ainda falta um tanto pra chegarmos no ponto de ebulição. Uns 10 a 15 anos que seja. Talvez até o fim desta década, quem sabe? Com a RugbyChampionship na Argentina os sul-americanos amantes do Rugby agradecem o incentivo.

Dia 01 de setembro o Farrapos jogava contra o SPAC em São Paulo. Pra mim que gosta de assistir futebol no estádio, no máximo na TV, mas não tenho paciência pra rádio ou internet, acompanhar pelo twitter é muita tortura. O Lorenzo já tinha nos programado naquele sábado de sol e temperatura agradável. Fomos no Museu da PUC (50 reais bem investidos, diga-se), depois um almojanta na Lancheria do Parque, a melhor de todas, e à noite, um piquenique à luz de velas no Parcão. Oito horas de diversão pela cidade de Porto Alegre. Enquanto isso rolavam e terminavam as quartas-de-final do Super10. Eu preferia não saber os resultados antes de chegar em casa.

Meus maiores temores se confirmaram quando abri o site http://www.rugbysuper10.com.br/ . Tudo estava lá. SPAC 47-19 Farrapos. Não pelo placar, que muitas vezes no Rugby não significa o que foi o jogo. Sem ter assistido a partida me restam as estatísticas que o site fornece. Até os 19 do 2ª tempo o placar estava em 20-19 para o centenário clube paulistano. Quer dizer, nos últimos 20 minutos, o último quarto do jogo, é que foi decidida a partida. Mesmo que sem todos os dados e cruzamentos necessários, tentei concluir algo daquilo que como torcedor observo do Farrapos. Décadas de fanatismo futebolístico me fazem transpor para o o Rugby aquilo que observo no futebol. Retirar dos dados e da observação algo que me faça compreender aquilo que acontece em campo.

Pois bem, abri a 1ª lata de cerveja, coloquei os fones de ouvido, quando o Lorenzo me deixa escutar em paz, meus Happy Mondays, Noels Gallagher e Slades, e, sem pressa, entre uma lata e outra, colocar numa tabela o que observo e ver se os números fecham com com o que meus olhos teimam em acreditar: Que o Farrapos cai de produção no último quarto da partida.  Não pensem que é uma crítica. Não! Longe de mim. Sei das dificuldades que um jogador que trabalha e estuda em tempo integral enfrenta, pagando pra jogar, pra treinar e chegar em um nível de rendimento de competição. Não tem vida fácil. E dentro deste enfrentamento os jogadores, a comissão técnica e os dirigentes se jogam de cabeça. O que aqui vou detalhar é apenas uma constatação.

Peguei os dados dos 7 jogos do Farrapos no Super10 de 2011 e os 5 jogos do Super10 de 2012. Fiz uma tabela dividida em quartos de partidas, de 20 em 20 minutos, 2 quartos por tempo. Depois estabeleci uma relação entre os anos e a pontuação, diferença de pontuação, trys a favor e contra, penals convertidos a favor e contra e punições (cartões amarelos e vermelhos). É o que o site me proporciona. Nos penals não se tem a informação de quantos foram cometidos ou de quantos forem chutados pra fora.  Assim como não existem estatísticas de tackles, offsides, viradas, knockons, disputas de scrum ou de laterais. Talvez alguém com mais tempo livre e tendo os VTs pudesse fazer este levantamento (acredito que alguém faça isto, apesar de ser um trabalho exaustivo).

Nos 7 jogos de 2011 a média de placares do Farrapos foi 15-32. Em 2012, em 5 jogos, 15-33. Praticamente inalterada. Em 2011, 61% dos pontos foram convertidos no 2º tempo; Em 2012, 60% no 1ª tempo. Em 2011 não existiu grande variação nos pontos sofridos, a média entre os quartos variou de 7 a 9 pontos contrários. Já em 2012, 60% dos pontos foram sofridos no 2º tempo, sendo 36,5% no último quarto. Uma varição de mais de 40% em relação à 2011. Enquanto em 2011 a maior variação de pontuação era o time perder por 5 pontos de diferença no 1º quarto e depois baixar a diferença, em 2012 o Farrapos, na média, perdeu o 1º quarto por UM PONTO, o 2º por 2, o 3º por 3 e o último por DEZ pontos. Um decréscimo na pontuação quase exponencial da equipe nos últimos 20 minutos. Na média a equipe perdia por 11-24 faltando 20 minutos e em 2012 perde de 13-21. De 13 para 8 pontos de diferença. Estes 5 de diferença são sofridos nos últimos 20 minutos.

Esta diferença de evidencia quando observamos que 2/3 dos tries eram convertidos no 2º tempo em 2011 e em 2012 são convertidos no 1º tempo. Mas se decaiu os tries de um tempo para outros, porque a diferença na média continua a mesma? Porque quase quase metade dos tries (48%) são sofridos no último quarto da partida. Como as penalidades convertidas caíram na mesma proporção, o que considero uma evolução do próprio Super10, mais experiência e intercâmbio, menos penalidades, e os cartões do Farrapos caíram para menos de 25% do que recebiam o ano passado, demonstrando uma evolução técnica e de conhecimento das regras da equipe, a única explicação plausível para este decréscimo da produção, tanto ofensiva quanto defensiva, do Farrapos nos últimos 20 minutos, pra mim, deve-se muito mais ao estilo de jogo proposto que propriamente a uma falta de preparo físico mais acentuada.

Obviamente, como leigo, me atenho ao que apreendi do esporte como observador nos últimos 5 anos e do que vejo quando assisto aos jogos da arquibancada (mas a TV e a Internet também me ajudam nestas horas), possa estar errando em minha conclusões. Ainda me confundo, e muito, nas funções de cada jogador em campo. Enquanto a maioria admira principalmente os 1ªas linhas e o abertura, me ligo nos fullbacks, nos que dão o 2º combate e nos atravessadores. Nada mais natural pois quando jogo futebol quero jogar no desrame, na destruição e largar a bola para os outros. Minha natureza é destruidora e sempre tendo a admirar os pedreiros em vez dos arquitetos, apesar de saber que são estes que finalizam.

Resumindo, que já avancei demais nos números, o Farrapos é uma equipe fisicamente muito forte, a mudança de jogadores do Super10 de 2011 pra 2012 foi na base de uns 40%, mas a equipe titular este ano é relativamente mais jovem, logo não seria o físico uma influência determinante, mas sim a escolha de um jogo forte no scrum, nos rucks, nos volantes, apostando em agredir e segurar o adversário nos primeiros 40 minutos e fazer diferença. É um estilo argentino, que é logicamente influenciado pelo rugby europeu, o britânico principalmente. Eu gosto. Mesmo prefiro os Pumas aos Wallabies, mas gosto dos Bokkes e não tenho como não admirar o Rugby total dos All Blacks, mas essa escolha, certa ou errada, confronta com um outro estilo, do drible de corpo, da velocidade e da troca rápida e precisa de passes. Acredito que resta ao Farrapos encontrar o equilíbrio, que virá com o tempo, de saber manter sua personalidade, que o diferencia no Rugby nacional, com velocidade e técnica nos momentos cruciais de cada partida.

Sábado, dia 15/09, tem mais. Contra o Curitiba fora de casa é a semifinal do 5º lugar. Para o Farrapos vencer já o colocará em uma patamar mais alto que em 2011. Lutando contra o números. Do começo ao fim. Em frente!


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