27/10/2011

Mas que diabos é a Haka?

Qualquer um que comece a ler ou assistir algo sobre rugby tomará conhecimento da haka. Haka é como se chamam as danças tipicas do povo maori, nativos da Nova Zelândia, sendo a mais conhecida a Ka Mate, executada pelos All Blacks antes das partidas da seleção nacional. Ao contrário do que muitos podem imaginar, a haka dos Blacks não é um fenômeno midiático pós-moderno para a televisão, mas sim um canto de intimidação e incentivo utilizado desde 1906 (antes disso utilizaram outros cantos). Abaixo dois vídeos da haka executada na década de 1920.


Jornais relatam um canto numa excursão de 1903 intitulado "Tena Koe Kancagroo", alusivo a invadir os cangurus da Austrália e vencê-los, mas não era exatamente uma dança folclórica maori. Já em 1924-25 teria sido usado também o canto "Ko Niu Tireni", com palavras imitando sons de uma tempestade que se abateria sobre os inimigos, para assustar o adversário. Neste vídeo de 1973 vemos que nem sempre a haka teve essa plasticidade atual e tenho sérias dúvidas sobre o grau de intimidação de tal dança quando mal executada.

 

James Joyce, escritor irlandês, assistiu a dança num jogo dos neozelandeses em Paris em janeiro de 1925, adaptando a letra do canto para seu livro Finnegans Wake lançado em 1938. Vocês não vão querer que eu, já sofrendo por sugar todas essas informações de textos em inglês traduza a confusão linguística que Joyce criava. Mas, como ilustração, serve de recado para aqueles que chamam o rugby de esporte bronco jogado por brutos. Rugby também é literatura. E das mais empedernidas.

Holispolis went to Parkland with mabby and sammy and sonny and sissy ... all to find the right place for it ... between wandering weather and stable wind, vastelend hosteil-end, neuziel and oltrigger some, ..

Let us propel us for the frey of the fray! Us, us, beraddy!
Ko Niutirenis hauru leish! A lala!
Ko Niutirenis haururu laleish! Ala lala!
The Wullingthund sturm is breaking.
The sound of maormaoring
The Wellingthund sturm waxes fuer-cilier.


The whackawhacks of the sturm.
Katu te ihis ihis! Katu te wana wana!
The strength of the rawshorn generand is known throughout the world.
Let us say if we may what a weeny wukeleen can do.
Au! Au! Aue! Ha! Heish! A lala!
A haka atual é puxada por um líder, geralmente o jogador de origem maori mais velho do grupo, e tem em sua letra pérolas como (tradução livre): "Este é homem peludo que fez com que o sol briulhasse novamente pra mim". 

Desde 2005 são utilizados também outros canto e dança em partidas mais importantes, o "Kapa o Pango", que contém a controversa parte onde os jogadores fazem o gesto de cortar as gargantas dos adversários. Foi esta dança que os All Blacks utilizaram na partida contra a França na primeira fase da Copa do Mundo de 2011, em deferência a ser uma partida revanche à histórica derrota sofrida pelos Blacks para a França na Copa de 2007. 

Esta dança é a que eu escolhi para fechar um post nada conclusivo sobre a polêmica e lendária dança neozelandesa e que já faz parte da tradição do rugby, sendo uma lei não escrita do esporte: Deixar os All Blacks fazerem sua dança.


Adendo: Depois de escrever o texto li a notícia que a IRB teria multado a França em 5 mil euros por avançar sobre a haka na final da Copa no último domingo. A IRB considerou, sabe-se lá porque, o ato dos franceses avançarem até a linha intermediárias uma provocação. Um exagero dos dirigentes do rugby mundial. Não vi ofensa nenhuma, mas encontrei vídeos de partidas em que a haka já levou os adversários a quase descambarem para a agressão, como no jogo abaixo, de 1989, em que os irlandeses encararam a haka e por pouco não começa uma pancadaria. Encontrei relatos de Gales e outros países que também se enervaram com a haka. Todos os que a desafiaram, por coincidência ou maldição, perderam.



Adendo 2: Chabal contra a haka em 2007 merece outro texto.

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