Posso dizer que tudo começou em 2007 por conta de nossa comadre, Milena Fischer, que na verdade não gosta e nem tem nada a ver com Rugby. Mas na época ela fez uma pauta sobre o bairro de Palermo em Buenos Aires, bairro de artistas, onde livrarias, lojas de moda de rua, bares, boêmia ativa que se perpetua sobre a capital portenha, e a Betine, como não poderia deixar de ser, ficou doida para conhecer a cidade, as lojinhas, tudo. Peso em baixa, Real em alta, fomos bem grandões passear por Buenos Aires, mas na verdade passaríamos quase todo o tempo em Palermo.
Na mesma época acontecia a Copa do Mundo de Rugby da França. Entre uma loja e outra eu observava as TVs ligadas e argentinos vidrados acompanhando os jogos. Claro que não era um público de futebol, mas observavam como se fosse um esporte tão compreensível quanto basquete, por exemplo. Eu ficava ali matutando, bebendo a jarra de Quilmes e tentando compreender porque no Brasil eu nem tinha notícia de Rugby. Pra mim era como se fosse um esporte fantasma. Muitos anos antes tinha lido uma matéria na Zero Hora sobre o Charrua, era algo tipo "um novo esporte surge em Porto Alegre", mas que não teve continuidade, claro.
Palermo 2007 - argentinos e o Rugby
Antes de voltar comprei uma El Grafico e tinha uma reportagem completa, com tabela e tudo o mais, sobre a Copa da França. Comecei a acompanhar os resultados pela internet. De vez em quando um ou outro jogo passava na ESPN, eu assistia, mesmo que sem entender muito, só pela diversão de ver aquele embolamento e o que à primeira vista parece uma pancadaria. Em 2009 o premiado Invictus de Clint Eastwood ajudou muito, apesar de o tema central do filme ser a luta pela igualdade em um país destroçado por uma ditadura racista, o Rugby é o elemento aglutinado que Mandela sabiamente utiliza durante a Copa de 1995.
Finalmente conheci o Farrapos Rugby, time da cidade de Bento Gonçalves, terra da Betine. Lendo e os jornais da cidade acompanhei o crescimento do time até que vencesse o 1º título estadual, e no ano passado, com o bi e a participação no novo Super10, campeonato nacional de Rugby XV. Resolvi, como sempre resolvo quando pretendo conhecer um determinado assunto, fazer um intensivo pela internet mesmo. Acompanhar os jogos da Heineken Cup na ESPN e a Copa do Mundo da Nova Zelândia também vieram em auxílio. Restava acompanhar em campo. Ano passado fui a um jogo da Copa RS onde o Farrapos perdeu para o Novo Hamburgo. Indiferente à derrota, o crime estava feito. De lá pra cá tenho acompanhado o esporte de forma vertiginosa, como um vício incontrolável, vício este que aos poucos vai consumindo a energia que eu dispendia acompanhando futebol e o Inter.
Farrapos x Charrua no campo da BM - 2012
Após a copa de 2011 começaram os rumores da Argentina se juntar ao Tri Nation, competição dos grandes do hemisfério sul disputada entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, e jogar contra eles algo previamente chamado Four Nations, mas que viria a ser Rugby Championship. Pois aconteceu. Quando saiu a tabela e o dia do jogo já pedi pra Betine marcar a parte das férias que faltavam pro fim de setembro. Eu tinha que assistir. Assistir Pumas x All Blacks seria como um Brasil x Itália de 1970. Impossível não querer estar lá. Comprei as entradas nos primeiros minutos do dia 7 de maio quando abriram as vendas pela internet. Estava feito. Não tinha mais volta. Quase cinco meses aguardando ansiosamente o grande dia.
Enquanto aguardava torci pelo tri inédito do Farrapos, acompanhei o Super10, os amistosos de fim da temporada europeia contra os países do sul, voltei a fazer musculação, correr e tentar voltar à forma física, nem que ainda seja a de um barril musculoso. Tudo isso é culpa de muitos fatores sendo que o principal deles é que o Rugby me fez acreditar em algo palpável, amizade e esporte, lutar pelos seus objetivos mantendo um código de honra e lealdade, quase um caminho do samurai (assistam Ghost Dog). Nada disso nasceu assim, do nada, foi um caminho que eu permiti se abrir na minha frente. Esse caminho teria que passar novamente por onde tudo começou: ARGENTINA.
Um blog como este, de um neófito no Rugby tentando compreender o esporte, poderia simplesmente se resumir a exaltar a beleza do esporte, que está além das jogadas, dos dribles de corpo, daquele chute que pega a defesa adversária desprevenida e resulta em um try dos mais saborosos. Ainda não chegamos na ebulição do Rugby no Brasil. Eu diria que a temperatura da fervura da subindo, mas ainda falta um tanto pra chegarmos no ponto de ebulição. Uns 10 a 15 anos que seja. Talvez até o fim desta década, quem sabe? Com a RugbyChampionship na Argentina os sul-americanos amantes do Rugby agradecem o incentivo.
Dia 01 de setembro o Farrapos jogava contra o SPAC em São Paulo. Pra mim que gosta de assistir futebol no estádio, no máximo na TV, mas não tenho paciência pra rádio ou internet, acompanhar pelo twitter é muita tortura. O Lorenzo já tinha nos programado naquele sábado de sol e temperatura agradável. Fomos no Museu da PUC (50 reais bem investidos, diga-se), depois um almojanta na Lancheria do Parque, a melhor de todas, e à noite, um piquenique à luz de velas no Parcão. Oito horas de diversão pela cidade de Porto Alegre. Enquanto isso rolavam e terminavam as quartas-de-final do Super10. Eu preferia não saber os resultados antes de chegar em casa.
Meus maiores temores se confirmaram quando abri o site http://www.rugbysuper10.com.br/ . Tudo estava lá. SPAC 47-19 Farrapos. Não pelo placar, que muitas vezes no Rugby não significa o que foi o jogo. Sem ter assistido a partida me restam as estatísticas que o site fornece. Até os 19 do 2ª tempo o placar estava em 20-19 para o centenário clube paulistano. Quer dizer, nos últimos 20 minutos, o último quarto do jogo, é que foi decidida a partida. Mesmo que sem todos os dados e cruzamentos necessários, tentei concluir algo daquilo que como torcedor observo do Farrapos. Décadas de fanatismo futebolístico me fazem transpor para o o Rugby aquilo que observo no futebol. Retirar dos dados e da observação algo que me faça compreender aquilo que acontece em campo.
Pois bem, abri a 1ª lata de cerveja, coloquei os fones de ouvido, quando o Lorenzo me deixa escutar em paz, meus Happy Mondays, Noels Gallagher e Slades, e, sem pressa, entre uma lata e outra, colocar numa tabela o que observo e ver se os números fecham com com o que meus olhos teimam em acreditar: Que o Farrapos cai de produção no último quarto da partida. Não pensem que é uma crítica. Não! Longe de mim. Sei das dificuldades que um jogador que trabalha e estuda em tempo integral enfrenta, pagando pra jogar, pra treinar e chegar em um nível de rendimento de competição. Não tem vida fácil. E dentro deste enfrentamento os jogadores, a comissão técnica e os dirigentes se jogam de cabeça. O que aqui vou detalhar é apenas uma constatação.
Peguei os dados dos 7 jogos do Farrapos no Super10 de 2011 e os 5 jogos do Super10 de 2012. Fiz uma tabela dividida em quartos de partidas, de 20 em 20 minutos, 2 quartos por tempo. Depois estabeleci uma relação entre os anos e a pontuação, diferença de pontuação, trys a favor e contra, penals convertidos a favor e contra e punições (cartões amarelos e vermelhos). É o que o site me proporciona. Nos penals não se tem a informação de quantos foram cometidos ou de quantos forem chutados pra fora. Assim como não existem estatísticas de tackles, offsides, viradas, knockons, disputas de scrum ou de laterais. Talvez alguém com mais tempo livre e tendo os VTs pudesse fazer este levantamento (acredito que alguém faça isto, apesar de ser um trabalho exaustivo).
Nos 7 jogos de 2011 a média de placares do Farrapos foi 15-32. Em 2012, em 5 jogos, 15-33. Praticamente inalterada. Em 2011, 61% dos pontos foram convertidos no 2º tempo; Em 2012, 60% no 1ª tempo. Em 2011 não existiu grande variação nos pontos sofridos, a média entre os quartos variou de 7 a 9 pontos contrários. Já em 2012, 60% dos pontos foram sofridos no 2º tempo, sendo 36,5% no último quarto. Uma varição de mais de 40% em relação à 2011. Enquanto em 2011 a maior variação de pontuação era o time perder por 5 pontos de diferença no 1º quarto e depois baixar a diferença, em 2012 o Farrapos, na média, perdeu o 1º quarto por UM PONTO, o 2º por 2, o 3º por 3 e o último por DEZ pontos. Um decréscimo na pontuação quase exponencial da equipe nos últimos 20 minutos. Na média a equipe perdia por 11-24 faltando 20 minutos e em 2012 perde de 13-21. De 13 para 8 pontos de diferença. Estes 5 de diferença são sofridos nos últimos 20 minutos.
Esta diferença de evidencia quando observamos que 2/3 dos tries eram convertidos no 2º tempo em 2011 e em 2012 são convertidos no 1º tempo. Mas se decaiu os tries de um tempo para outros, porque a diferença na média continua a mesma? Porque quase quase metade dos tries (48%) são sofridos no último quarto da partida. Como as penalidades convertidas caíram na mesma proporção, o que considero uma evolução do próprio Super10, mais experiência e intercâmbio, menos penalidades, e os cartões do Farrapos caíram para menos de 25% do que recebiam o ano passado, demonstrando uma evolução técnica e de conhecimento das regras da equipe, a única explicação plausível para este decréscimo da produção, tanto ofensiva quanto defensiva, do Farrapos nos últimos 20 minutos, pra mim, deve-se muito mais ao estilo de jogo proposto que propriamente a uma falta de preparo físico mais acentuada.
Obviamente, como leigo, me atenho ao que apreendi do esporte como observador nos últimos 5 anos e do que vejo quando assisto aos jogos da arquibancada (mas a TV e a Internet também me ajudam nestas horas), possa estar errando em minha conclusões. Ainda me confundo, e muito, nas funções de cada jogador em campo. Enquanto a maioria admira principalmente os 1ªas linhas e o abertura, me ligo nos fullbacks, nos que dão o 2º combate e nos atravessadores. Nada mais natural pois quando jogo futebol quero jogar no desrame, na destruição e largar a bola para os outros. Minha natureza é destruidora e sempre tendo a admirar os pedreiros em vez dos arquitetos, apesar de saber que são estes que finalizam.
Resumindo, que já avancei demais nos números, o Farrapos é uma equipe fisicamente muito forte, a mudança de jogadores do Super10 de 2011 pra 2012 foi na base de uns 40%, mas a equipe titular este ano é relativamente mais jovem, logo não seria o físico uma influência determinante, mas sim a escolha de um jogo forte no scrum, nos rucks, nos volantes, apostando em agredir e segurar o adversário nos primeiros 40 minutos e fazer diferença. É um estilo argentino, que é logicamente influenciado pelo rugby europeu, o britânico principalmente. Eu gosto. Mesmo prefiro os Pumas aos Wallabies, mas gosto dos Bokkes e não tenho como não admirar o Rugby total dos All Blacks, mas essa escolha, certa ou errada, confronta com um outro estilo, do drible de corpo, da velocidade e da troca rápida e precisa de passes. Acredito que resta ao Farrapos encontrar o equilíbrio, que virá com o tempo, de saber manter sua personalidade, que o diferencia no Rugby nacional, com velocidade e técnica nos momentos cruciais de cada partida.
Sábado, dia 15/09, tem mais. Contra o Curitiba fora de casa é a semifinal do 5º lugar. Para o Farrapos vencer já o colocará em uma patamar mais alto que em 2011. Lutando contra o números. Do começo ao fim. Em frente!
Ontem finalmente consegui assistir o filme que tinha gravado contando a história de Tom, um garoto do sul da França, que gosta de rugby mas se vê forçado pelo pai a ser o melhor para seguir a tradição centenária da família Canavarro de jogadores de Rugby pelo RC Doumiac.
O diretor do filme, Phlilippe Guillard, é também um ex-jogador de rugby do Racing Club, empreendeu este filme de 95 minutos e custo de 2,5 milhões de euros em 2010, sendo lançado antes no sul da França, tradicionalmente a região onde o rugby é muitas vezes mais forte que o futebol, no final de 2010.
O pai de Tom, o Jo do título, interpretado pelo reconhecido ator na França, Gerárd Lanvin, viúvo, criou sozinho o filho enquanto batalha, sem sucesso, para pagar as dívidas e manter o sonho do clube de rugby da família. Ajudado por Pompom, interpretado por outro ex-jogador de rugby, do Stade français, entre outros clubes, Vincent Moscato, que é um agregado e melhor amigo de Jo, Chinês, um mulherengo ex-jogador do Doumiac que traz para ser treinador um verdadeiro all-black, outro ex-jogador atuando no filme, tenta montar um time, mesmo que no começo à revelia de seu filho, Jo, com quem mantém uma relação conflituosa.
É um filme comercial, óbvio, mas um filme comercial francês. Quando tudo poderia descambar pra pieguice, o humor e as grosserias típicas dos franceses, dão a tônica do filme, que além de ser uma apologia à irmandade que se cria no rugby, é também a história de aproximação, auto-conhecimento e descobertas entre pai e filho. Vale cada minuto da uma hora e meia. Pra quem gosta de rugby e é pai, como eu, é um prato cheio e temperado. Assistam!
Em Porto Alegre o dia amanhecia gelado e nebuloso.
A cerração baixa fazia com que os automóveis ligassem os faróis.
O dia se deixava vislumbrar sombrio, mas à medida que subíamos a
serra até Bento Gonçalves a temperatura subia e o sol se abria com
toda a força que consegue manifestar em uma manhã de julho abaixo
dos trópicos no hemisfério sul. Certo que cochilei após o almoço
e decidi, sozinho, caminhar até a Montanha. Um porto-alegrense de 41
anos, que visita regularmente Bento desde 2004, mas ainda não
conhece os atalhos para fugir das piores lombas, como carinhosamente
chamamos subidas íngremes aqui pelas bandas do paralelo 30. Pouco
mais de um mês depois de voltar à uma academia e aos treinamentos
na musculação, atividade que me dediquei regularmente de 1999 até
2005 e que abandonei para me dedicar a outra atividade, bem mais
onerosa e cansativa, mas recompensadora em todos os sentidos, a de
ser pai do Lorenzo, fui eu, passada forte, encarar os sobe-e-desces
da capital do vinho gaúcho.
Na metade da segunda lomba, a mais íngreme de
todas, ao lado do estádio da Montanha (porque vocês acham que ele
tem esse nome?), literalmente botei os bofes pra fora. Os gritos da
organizadas do Farrapos, os Los Farrapos, uma língua rollingstoniana
verde é o seu símbolo, me impulsionaram a encarar a segunda metade
da subida, já implorando para chegar ao final dela vivo. Inteiro eu
não estava. Fui direto ao bar e, como nunca, pedi uma garrafa de
água. Sem gás. O blusão de lã que antes me aquecia agora me
sufocava. O gás me faria explodir.. Olhei para o placar que marcava
3-0 para o Farrapos contra o Desterro, a vibração que me deu forças
para terminar minha via crucis de torcedor de Rugby, a água
recobrando minhas forças e o caminho até às velhas arquibancadas
do antigo estádio de futebol.
O sol, forte como nunca em uma tarde de julho em
Bento, esquentava a partida, e o Desterro, se aproveitando de uma
desatenção, a primeira da tarde, da linha farrapa, marcou o seu
primeiro try, não convertido, e estabeleceu o 5-3 no placar. O
Farrapos estreava sua camisa alusiva a Revolução Farroupilha, num
jogo contra um dos dominados da revolta gaúcha do século XIX, era
como se o passado viesse assombrar os generais rebeldes. O sol quente
era um aviso dos céus, impenetrável. O grupo rio-grandense tentava
manter a pegada e jogar com a contundência de quem se exibia em
frente ao mais fiel público de Rugby do Super10. A barra pulava e
cantava sem parar, os bumbos espoucando e dando ritmo ao time. Do
outro lado do estádio, a torcida aparentemente mais calma, formada
por familiares, crianças e muitos curiosos, alguns até sem nem
mesmo compreender muitas das regras do esporte bretão, gêmeo
bivitelino do futebol, gritava incentivando o clube a buscar seu try.
Impulsionado pelo sol o Desterro chegou ao segundo
try enquanto o Farrapos se desgastava em tentativas frustradas de
tries, fases sobre fases, rucks sobre rucks, o time catarinense
chamando as forças do Império e, estrategicamente, fugindo dos
scrums farrapos, base de sua força e prevalência moral. E assim o
primeiro tempo terminou, 10-3 para o Desterro. Decidi, como todo bom
supersticioso, trocar de lado de arquibancada. Obviamente não
influenciaria em nada no resultado da partida, como também a
torcedora de seus 60 anos não alteraria nada, casaquinho em punho,
berrando na grade, “vamos farapo”, com a entonação e os erres
característicos da fala do povo de Bento. Eu, já só de camiseta,
aproveitava o curto intervalo para armazenar minha mente de álcool,
única decisão sensata para espantar o azar, ou a noção de
realidade, e deixar com que as sombras das nuvens que se amontoavam
abaixo do sol iluminasse os jogadores do Farrapos. E assim foi.
Mais consistente, brigando por espaços e
batalhando à gaúcha, corpo-a-corpo intenso, avançavam sobre as
forças imperialistas, quer dizer do Desterro, Garibaldis empurrando
um navio pelas dunas de Laguna, as nuvens trazendo um pouco do clima
gélido das plagas nos fins de julho, e o astro-rei, obviamente
monarquista, se contorcia à busca de um Caxias para lhe ajudar a
aniquilar as forças de Bento Gonçalves. Enquanto as forças das
sombras dominaram a Montanha, o Farrapos voltou a ter mais posse de
bola, marcar em cima as tentativas de contra-ataques rápidos do
Desterro, e impondo um try convertido e forçando, dentro da linha
dos 22, os catarinenses a cometerem falta. Um adversário pressionado
sempre comete mais faltas, pois no Rugby, o que parece simples não
é. Claro que a qualidade do passe é importante, a inteligência nas
mudanças de lado, nas quebras de linha, nos dribles, na jinga, a
arte de escapar tal qual um muçum, peixe escorregadio da região e
nome de uma cidade próxima, mas a marcação, a defesa, exige
atenção máxima, o olhar fixo, como a esperar para dar o bote certo
no tackle, a corrida no momento certeiro e a aposta na
imprevisibilidade da oval ao tocar o chão em sua trajetória
irregular e ao mesmo bela.
A bola de Rugby é como aquela mulher, tentadora,
persuasiva, que nos faz correr atrás dela como bobos. Parece que vai
para um lado e vai para o outro. Resvala, nos faz cometer erros
imperdoáveis, cai para frente, tonto, o jogador tateia no espaço
vazio à procura da bola e ela, zombeteira, cai em mãos alheias. Nos
breves momentos em que a colocamos embaixo do braço, aconchegada sob
a asa, ela é nossa, de mais ninguém. O try orgasmático da vitória,
como se fosse um esperma insano tentando adentrar o óvulo matreiro,
a oval só atinge seu objetivo quando prensada sobre o ingoal
adversário. Só assim, subjugada, ela se entrega e beija o solo, até
a próxima jogada, quando volta a ser como sempre foi. Traiçoeira.
Imprevisível. Desafiadora.
O 13-10 a favor no placar acalmava a torcida que
agora cantava a pleno. A torcedor sessentona aliviada, sentava-se a
observar. Parecia questão de tempo segurar as investidas do time de
Florianópolis e tentar converter um try ou um ou dois penals para,
pelo menos, garantir a vitória, mesmo que mínima. Mas as sombras
que traziam o frio se desformaram, assim como as forças da defesa
farrapa, e Bento Gonçalves começou a sofrer as baixas de um
exército que se exaurira numa ferrenha batalha corporal. Os
jogadores catarinenses se aproveitavam destes momentos e disparavam
pelos flancos da linha de Bento convertendo trys na metade do segundo
tempo. A torcida, como que pega de surpresa, tentava reagir com
gritos esparsos. O sol era negro e as sombras se perdiam no
horizonte, A tarde quente trazia o desalento do silêncio ao apitar
final do juiz. O Farrapos ainda lutava, como em tantas outras vezes
naquela partida, por um trabalhoso try de fases, frustrado por um
erro, um knock-on, embolamento que cega o árbitro, a oval que beija
outro na saída da festa. 27-13, ponto bônus para o Desterro e a
certeza que algo poderia ter saído melhor.
Um resto de cerveja quente amargava na minha lata.
Restava-me juntar aos soldados combalidos e, entre abraços e
demonstrações de amizade, sorrir na desgraça. Os verdadeiros
amigos se conhecem na derrota. Quem vive sempre sob o sol não sabe
que é nas sombras que se encontram forças para seguir em frente.
Nos meus delírios noturno se desenhava a verdade do Rugby no fundo
do copo. Saber que não escolhemos amigos ou inimigos, mas escolhemos
as ideias com que farão com que uns sejam amigos e outros, não.
Quem escolhe o Rugby não escolhe inimigos. Que venham os paulistas!
Chegamos cedo na Montanha, eu e a Betine. Olhar as camisetas da tenda da Sul Back, que fornece o material esportivo do Farrapos, tomar uma cerveja, encontrar os amigos e se acostumar ao ambiente de decisão. Na preliminar o Sanm Diego vencia o Novo Hamburgo por 27-10, no final venceria por 30-22, e seria coroado com o terceiro lugar no pódio do Gauchão de Rugby. Quando perguntado o que achava da final por um torcedor mais confiante do Farrapos, respondi: Vai ser encardido. Antes não tivesse dito. Foi. Mas, antes das emoções da partida, cabe falar mais um pouco sobre alguns aspectos do companheirismo, até certo ponto, claro, pois também tem um título em jogo e ninguém gosta de perder, ao lado da arquibancada principal do estádio, coberto por uma lona, era assado um churrasco de chão, costelão e paletismo virado contra as brasas rentes ao píso, aguardando o terceiro tempo, tradição do esporte, momento em que os adversários de campo confraternizam abaixo de, quase sempre, muita cerveja, e no caso brasileiro, muita carne.
De um ano pra cá entrei numa espiral de acompanhar o esporte que já teve duas consequências. Uma é me tornar referência entre os amigos e conhecidos que não sabem nada do esporte. A segunda é começar a sofrer com o estranhamento sobre o porquê de alguém que até alguns anos atrás falava só de futebol e agora falava mais da metade do tempo sobre Rugby. É complicado explicar sem que se conheça o esporte antes. Primeiro reação, óbvia, e preconceituosa, é que é um esporte violento. Não é. É tão ou mais violento que o futebol. Obviamente é mais violento que o vôlei, um esporte quase sem contaTo, mas todo o esporte coletivo de contato, futebol, basquete (que não joguei nada durante alguns anos na infância) e Rugby, entre outros, envolve a disputa pela bola e pela posse de espaços no campo ou na quadra. É uma disputa de território. O que diferencia o Rugby é na disputa pela bola a possibilidade de se derrubar, tacklear, ou empurrar, num ruck ou num scrum, o adversário para dentro de sua meta. Só. Mas existem regras para isso. Não se póde ultrapassar a "linha inimiga", uma linha imaginária atrás do pé do último homem de sua própria linha. Nãso se pode invadir pelos lados. Não se pode pegar o jogador sem os pés no chão (no ar), derrubá-lo sem a posse de bola (aqui uma diferença crucial do futebol americano), impedir o avanço da jogada com obstruções (como no futebol). Enfim, existem regras. E posso garantir que, independente de falhas da arbitragem, que existem em qualquer esporte, as regras no Rugby são mais seguidas que em muito esporte que proclama a arte, mas também estimula e premia a falcatrua.
Imagem geral antes do começo da partida,
fumaça do churras ao lado da arquibancada.
O jogo mal começou, falo de memória, acredito que aos 10, ou 12 minutos, da primeira etrapa, o Charrua pressionando desde o início e jogando o Farrapos contrra o seu próprio campo, deixava evidente que queria largar, e logo, com um try De Daniel Blanquito sobre a até então no campeonato invencível defesa de Bento. E foi assim que depois de muita briga, empurrões, na base da força mesmo, que o Charrua escapou da marcação farrapa e meteu um try que desnortearia por algum tempo o time da casa. O Farrapos demorou a conectar no jogo, mas aos poucos foi tentando reativar seu característico jogo de chão e scrum que muitas vezes foi o diferencial em suas vitórias mais suadas. Forçando o erro do adversário e tentando se aproximar do ingoal índio o Farrapos, armando uma jogada pelo meio, dividiu a a atenção adversária e sobrou para Scopel acertar um drop goal e diminuir a diferença para 5-3. Uma leve garoa começou a baixar a temperatura gradativamente, de um clima ameno passou em menos de meia hora para um clima nebuloso e frio, ou seja, virou o tempo entre a metade do priomeiro tempo e o intervalo. A bola, já de difícil domínio nas disputas aéreas por ser oval, ficava ainda mais fora de controle com a umidade.
A partida seguia perigosa para o Farrapos, com o Charrua sempre forçando uma escapada de contra-ataque pelas laterais, mmas também com muita combatividade no chão e nas tramas pelo meio de campo, com ligeira vantagem para o Farrapos, forçando o Charrua a ter que disputar a bola no limite. E, no Rugby, quando alguém tem que disputar pore muito tempo a bola no limite, acaba cometendo faltas, seja invadindo a formação inimiga. Quando a partida já estava nos acréscimos, o Charrua cometeu uma penalidade. Scopel não perdeu a oportunidade e converteu os 3 pontos quase da intermediária. Farrapos 6-5 e um intervalo nervoso e vibrante entre as torcidas que faziam a festa na Montanha. Enquanto a Betine aguardava na fila do banheiro, mulheres com frio ávidas por um vaso sanitário, peguei mais uma cerveja e fiquei conversando com o Diogo Filippon, repórter e fotógrafo do Leouve (reportagem com fotos no link do site ) e ainda não acostumado com os intervalos mais curtos no Rugby que no futebol, olhei pra dentro do campo e já tinha iniciado a segunda etapa. Mal me ajeitei na linha de fundo, colado na grade, e o Farrapos cometeu uma falta e sofreu 3 pontos num penal bem cobrado pelo Charrua. 8-6. Começava o martírio da torcida de Bento.
Lateral cobrada para o Farrapos, primeiro tempo,
time de Bento em desvantagem.
A torcida do Charrua, animada e vibrante, cantava e se fazia ouvir pelo estádio. A torcida farrapa gritava e fazia uma baderna do bem na arquibancada contrária. A Betine, nervosa, ficou fumando sozinha atrás de um H enquanto eu fui pra grade. Não consigo ficar sentado assistiundo quando encarde um jogo. Eu vou pra grade. Larguei bandeira e fui lá na lateral acompanhar as jogadas. Dava vontade de entrar em campo e empurrar junto aquela bola pra dentro do ingoal porto-alegrense. Culpa da Betine, eu, um porto-alegrense maldito, com o mais grudento sotaque das Osvaldo Aranha da vida, ali, torcendo contra minha própria "pátria", mas fazer o que? Essas coisas de paixão esportiva não têm lógica. Minha bandeira da barra foi pra banha, alguém levou pra fazer festa. Um sujeito que observou só disse: "É 2011, amigo. É assim." Nem questionei falar pra ele que já estamos em 2012. O Farrapos forçava, como sempre, e tentava cavar um buraco na forte defesa charrua, sem sucesso, restava forçar o erro. Numa bola na meia-direita o Charrua cometeu a falta, o jogo já descambava, natural para um final, para o nervosismo e os afagos de parte a parte. Scopel se preparou, poderia ser a virada, e quando ele tocou na bola na hora vi que aquela tinha ido muito mal. E foi. Nem chegou na linha dos 5 metros. Mais um tempo, o relógio passando,quase 30 do segundo tempo, e mais uma falta pro Farrapos.Quase frontal. Scopel ajeitou e o meu lado da arquibancada vgiobrou como se fosse um chute certeiro. Mas os bandeirinhas nem tchum. Foi por fora do H. Continuava 8-6. Até que faltando 7 minutos para o final, o Farrapoos conseguiu empurrar a linha adversária para perto de sua meta, e na imposição física, fez um histórico try quase rente ao chão. Try de Pequeno e uma conversão, dessa vez, em cheio, de Scopel. Farrapos 13-8. Restava ao Charrua partir pro try, agredir, e vender caro a derrota, como vendeu, jogando até o último instante, em cima do Farrapos, e valorizando, e muito, o inédito tricampeonato do caçula dos campeões gaúchos, 5 anos incompletos e já maior campeão regional e único representante do estado na elite nacional.
Festa da barra Los Farrapos! Loucura!
Festa nas arquibancads, foguetório, sinalizadores, rolos de papel higiênico voando, o garrafão de vinho pulando de mão em mão, a gurizada em cima da grade, a foto Amado Batista tremulando (alguém me explica qual o significa do Amado Batista pra barra farrapa), invasão de campo, foto com todos pulando, se jogando chão, loucura geral. Depois a entrega das premiações, algum resmungo com a arbitragem, a meia-boca, mas eu não notei nada e não acredito que a arbitragem tenha interfeirido no resultado, reportagem da TV em campo, já que a prometida transmissão ao vivo não rolou, a reportagem para os programas de esporte se fez presente, o churrasco fumegando na lateral cerveja e champanha rolando de mão em mão entre os jogadores, tanto vencedores quanto vencidos e o terceiro tempo que se avizinhava. Pra mim e pra Betine o terceiro tempo seria à noite, no Ferrovia Cult, bar que tem a mesma idade que o Farrapos, cerveja, rock e os amigos falando bobagem, Betine bebendo na taça pra dar sorte, eu derrubando a cerveja da mesma, e a certeza que estamos vivendo dias históricos desse esporte que um dia será grande no Brasil. Podem acreditar e me cobrar.
Dias tentando reativar o blogue e não me sobra tempo nunca. E quando sdobra tempo o Lorenzo me rouba a atenção. Mas agora, pra dizer a verdade, não tem nadea a ver com Rugby, ou tem, mas baixei o show do Black Sabbath do dia 19 de maio em Birmingham, cidade do Aston Villa e onde, obviamente, se joga Rugby, tanto Union quanto o League.
Pois bem, nesses tempos de Heinekens Cups, Premierships e quetais, o Gauchão de Rugby chega nas semifinais. O Rugby brasileiro não tem um calendário intenso como o europeu ou dos gigantes do hemisfério sul, e vale lembrar que o Rugby é um dos únicos esportes coletivos que as potênciasd mundiais se encontram no sul do mundo, se não for o único. Mas as federações e os clubes vestão cada vez mais ágeis pra transformar e revolucionar no Brasil. Parece papinho de entusiasta, eu sou um, mas pra quem acompanha todos os dias, nem que seja quase que só pela internet como eu, é notório o crescimento do esporte.
A receita de patrocínios da CBRu, a CBF do Rugby, pra simplificar, quintuplicou nos últimos 2 anos. Mesmo assim se encerra em pouco menos de 7 milhões de reais, mas já é o suficiente para os clubes jogarem o Super10, a principal competição nacional de clubes, com viagens e estadias subsidiadas. As tabelas são curtas. No caso do Super10, por exemplo, são 5 rodadas em dois grupos de 5, quartas-de finais, semifinais e finais, todas em jogos únicos. Oito datas no total. No Gauchão de Rugby são 4 datas na fase inicial e mais duas nas finais, sempre só com jogos de ida. Um time como o Farrapos joga 14 partidas nos seus dopis prinicipais torneios de XV. Depois tem a Copa RS, uma análoga da Copa RS de futebol, onde os times de todas as divisões gaúchas jogam entre si, são só duas, e os times que jogam as copas nacionais, no caso gaúcho o Farrapos e o melhor colocado no Gauchão de 2012, muitas vezes jogam com uma equipe B.
Resumindo, com alguns amistosos espaçados, tudo se resume a no máximo 18 ou 20 datas por ano. No resto do tempo é treino e treino, como os jogadores conseguirem treinar, afinal, infelizmente, ninguém vive de Rugby e a popularização do Rugby no mundo, a partir da liberação da profissionalização em 1995, fez com que o esporte deixasse de ser um esporte elitista (uma das causas de sua não-expansão mundial tão avassaladora quanto o futebol, apesar das carcterísticas que o tornam um esporte atraente, disputado e emocionante). Depois dessa minha explanação, breve, e incrivelmente regada com uma prosaica lata de cerveja preta (Boehmia, é boa pra tomar meio morna, como se fosse café), vamos ao que interessa: O jogo no estádio.
No dia 2 de maio fomos eu, a Betine e o Lorenzo, assistir e torcer pelo Farrapos contra o Charrua no Campo da BM, na Aparício, do lado Presídio Central. O campo é curto, quer dizer, é um campo de proporções pequenas de futebol, não acho que tenha os 100 metros de um campo de Rugby, tanto que o in goal parecia ficar aquém do H, o que confundia quem assistia das arquibancadas, confortáveis no "setor camarote". Confortáveis quero dizer, com cobertura. Arquibancada de concreto, como todo bom estádio de futebol das antigas. Nos aglomeramos no que certamente é a tribuna das autoridades quando tem alguma atividade da Brigada Militar. A marcação do campo é péssima, as linhas de 22, meio campo e de 5 metros quase invisíveis, e a área do in goal, muito curta, propícia para que alguém se arrebente numa disputa mais descontrolada em pedaços de concreto e outros obstáculos que se encontram atrás de onde normalmente se joga futebol, portanto, onde não tem jogo. Dos Hs nem vou falar porque se as goleiras não tem 3 metros não vou esperar eu que os Hs tenham os quase 4 metros necessários pra se ter uma boa visão, pelo menos pra quem assiste das arquibancadas, se um penal ou conversão passou entre os postes ou não.
De cara, chegamos atrasados, o Charrua marcou 3 pontos em um penal. Logo após o Farrapos igualou a partida, que seguia muito brigada, mas com o Farrapos tomando a iniciativa dos ataques e jogando o Charrua para dentro de seus domínios, tanto pela imposição física, característica do time de Bento Gonçalves, quanto pela rápida troca de passes entre seus jogadores. A cada partida o Farrapos vem se alterando em jogadas cada vez mais rápidas na troca de passes, o que deve ser fruto de treinamento e ensaio, claro. O try não demorou a surguir, brigado, pelo flanco esquerdo do ataque do Farrapos. Sem a conversão o primeiro tempo fechou em 8-3 para os serranos.
Na segunda etapa, pressionado por sua torcida que compareceu em bom número, para um jogo de Rugby, cerca de 300 pessoas,o Charrua se jogou para a frente e foi truncado pela defesa farrapa, quase não conseguindo chegar nos 22 do time de Bento. Depois de muito tentar por baixo, o Charrua começou a abusar dos chutões e apostar no erro do adversário. O clube de Porto Alegre lutou duramente, mas numa escapada pela esquerda, de novo, um belo try do Farrapos, e com pouco tempo de jogo, depois da conversão, restou aos porto-alegrenses honrosamente apostar em mais um penal e diminuir a diferença pra honrosos 15-6.
No último sábado, 19, enquanto o Sabbath se preparava para voltar dos mortos, eu e o Lorenzo nos dirigmos para o mesmo estádio, da BM, para assistir oq ue parecia ser outro duro confronto do Gauchão: Farrapos vs San Diego. Acordei cedo, cedo pra mim, antes do meio-dia de sábado. Enquanto boa parte do resto do mundo se preocupava com Chelsea x Bayern, eu me preocupava com Leinster vs Ulster. Nem trive tempo de pensar em torcer para um dos dois, apesar de pender mais para a Irlanda católica. O Leinster deu um show já na primeira parte do jogo com Brian O'Driscoll e Sean O'Brien, um servindo o jogo e o outro atropelando a defesa do time norte-irlandês. Apesar de chegar a 14-24 na segunda etapa, o Ulster não siportou a pressão e levou 42-14 no lombo, deixando a festa para seus irmãos sulistas.
Para o estádio levei suco, água, bolachas, salgadinhos e, para voltar no tempo, uma sacola de bergamotas. Como é bom assistir a uma partida do esporte que se gosta comendo bergamotas. Chegamos cedo mas o horário da partida, incerto na página da federação gaúcha, a FGR, era 15h30. Assistimos um try e pensei, bom, dei sortte. Quando está o jogo? Perguntei para alguém próximo. 22-0 sem a conversão. O jogo, que para mim parecia encardido, não tinha chegado ao primeiro quarto e já estava em distantes 22 pontos de diferença. Aos poucos fui descobrindo o porquê. Não que o San Diego não lutasse, lutava, mas o Farrapos jogou uma partida quase perfeita. Não deu sossego nas formações, roubou bolas em rucks, destruiu scrums e se saiu muito bem nos laterais, algo que me preocupava, pois quando assisti os jogos não achava o Farrapos tão bom nos laterais. O primeiro tempo terminou em 34-0 Eu contei 6 tries e 2 conversões.
No segundo tempo não seria diferente. O Farrapos fazia trys tão rápidamente quanto eu e o Lorenzo devorávamos bergamotas. Em certo momento, uma penalidade no meio campo e o Scopel do Farrapos colocou no tee. Pensei, "bom, vai chutar daí"? Foi bonito de ver porque a bola vou certeira no H, uns 40 metros de distância (se exagero, me desculpem, mas sou torcedor também). Coghetto, pra individualizar, se não vocês vão achar que não sei o nome dos jogadores, sei de alguns, mas ainda falta know-how pra decorar nomes como decoro no futebol, distribuiu bem no meio, e o jogo de mão do Farrapos contribuiu, com jogadas ensaiadas, inversões e velocidade, a estabelecer inacreditáveis 70-0 no San Diego. Eu, que considerava o Farrapos favorito, mas imaginei que a diferença ficaria no máximo nuns 10 pontos, calculei, de cabeça, 11 tries, 6 conversões e um penal, o dos 40 metros. Uma tarde histórica no Partenon.
Não posso engambelar por aqui e não admitir que o Farrapos é favorito para as finais. É. Pega o Novo Hamburgo, que foi atropelado pelo time de Bento por 55-0 na fase inicial, dia 02 de junho, na Montanha. Na outra semifinal, Charrua e San Diego farão um imperdível clássico porto-alegrense. Na mesma pegada o Farrapos pode surpreender no Super10 contra os poderoso clubes paulistas, tanto quanto a seleção de XV já incomoda no Sul-Americano. "Venceu" de 6-19 o Chile no domingo, os chilenos choramingando e arranjando desculpas porque pensavam atropelar o Brasil, e sofreram para vencer com apenas 1 try, sendo a diferença estabelecida nos penais. É, amigo, como diria o narrador mala na TV, não tem mais ninguém bobo no Rugby, não.