30/01/2013

ALÉM DA LINHA

Quando comecei a acompanhar rugby ainda em 2007 não tinha ideia nem das regras e nem o que aqueles caras faziam se amontoando atrás de uma bola oval. Com o tempo aprendi as regras e muito mais coisa. Com o tempo vi times perdendo de 70-0 lutando por alguns metros a mais no ataque faltando menos de 2 minutos de partida. Vi jogadores enfrentando a dor, se jogando compulsivamente num ruck para puxar um companheiro ou para lutar por alguns centímetros de gramado como se fosse o último prato de feijão da Terra. Rugby é mais que um esporte. É uma filosofia. Depois que entranha na tua vida o rugby altera até tua visão e entendimento do que é companheirimo e amizade.

Eu prometi que não escreveria sobre o incêndo na boate Kiss, mas não posso deixar de compartilhar, não uma história sensacionalista em cima do sofrimento alheio, mas uma história de um sujeito, Vinicius Rosado, professor de educação física e jogador do Universitário Rugby de Santa Maria. Segundo consta, contado por inúmeras testemunhas, Vinicius foi um dos primeiros a sair da boate. Vendo que seus amigos e os que acompanhavam não tinham conseguido sair, Vinicius voltou. Vinicius voltou e salvou ou ajudou a salvar 14 vítimas. Se fosse uma que fosse, já seria um grande ato de desprendimento. Mas, Vinicius, talvez por sua índole, educação, talvez por carregar o sentimento que todo rugbier carrega dentro das quatro linhas, se atirou no fogo como o pilar que se atira no ruck, o half que tackleia numa saída de scrum, lutando em um maul interminável, mas não por alguns metros de campo e sim para ajudar seus semelhantes, companheiros de desgraça.

Tal como o personagem cínico de Sean Penn em Além da Linha Vermelha, em um misto de admiração e incompreensão, muitos exclamarão que ele morreu. Um maldito heroi, como diria Sean Penn. Não sabemos o que faríamos, certamente se conseguíssemos sair, fugiríamos. Mas nas horas trágicas, nos momentos mais difíceis da vida, alguns poucos, grandes homens, ultrapassam a linha que separa a vida da eternidade, Vinicius Rosado ultrapassou essa linha. Compartilho aqui não a tragédia, mas um exemplo. Que não seja esquecido. Que repensemos nossa estupidez, hipocrisia e a pequenez de espírito. Que não se fabriquem mais acontecimentos trágicos. Que os herois possam morrer velhos. Que os herois não precisem aparecer. O heroísmo é um soco no estômago da insensatez. Vinicius Rosado, que tenha o descanso dos justos. Humanidade, aprenda.

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