04/10/2012

Uma História de Rugby - Parte Um

Posso dizer que tudo começou em 2007 por conta de nossa comadre, Milena Fischer, que na verdade não gosta e nem tem nada a ver com Rugby. Mas na época ela fez uma pauta sobre o bairro de Palermo em Buenos Aires, bairro de artistas, onde livrarias, lojas de moda de rua, bares, boêmia ativa que se perpetua sobre a capital portenha, e a Betine, como não poderia deixar de ser, ficou doida para conhecer a cidade, as lojinhas, tudo. Peso em baixa, Real em alta, fomos bem grandões passear por Buenos Aires, mas na verdade passaríamos quase todo o tempo em Palermo.

Na mesma época acontecia a Copa do Mundo de Rugby da França. Entre uma loja e outra eu observava as TVs ligadas e argentinos vidrados acompanhando os jogos. Claro que não era um público de futebol, mas observavam como se fosse um esporte tão compreensível quanto basquete, por exemplo. Eu ficava ali matutando, bebendo a jarra de Quilmes e tentando compreender porque no Brasil eu nem tinha notícia de Rugby. Pra mim era como se fosse um esporte fantasma. Muitos anos antes tinha lido uma matéria na Zero Hora sobre o Charrua, era algo tipo "um novo esporte surge em Porto Alegre", mas que não teve continuidade, claro.

Palermo 2007 - argentinos e o Rugby

Antes de voltar comprei uma El Grafico e tinha uma reportagem completa, com tabela e tudo o mais, sobre a Copa da França. Comecei a acompanhar os resultados pela internet. De vez em quando um ou outro jogo passava na ESPN, eu assistia, mesmo que sem entender muito, só pela diversão de ver aquele embolamento e o que à primeira vista parece uma pancadaria. Em 2009 o premiado Invictus de Clint Eastwood ajudou muito, apesar de o tema central do filme ser a luta pela igualdade em um país destroçado por uma ditadura racista, o Rugby é o elemento aglutinado que Mandela sabiamente utiliza durante a Copa de 1995.

Finalmente conheci o Farrapos Rugby, time da cidade de Bento Gonçalves, terra da Betine. Lendo e os jornais da cidade acompanhei o crescimento do time até que vencesse o 1º título estadual, e no ano passado, com o bi e a participação no novo Super10, campeonato nacional de Rugby XV. Resolvi, como sempre resolvo quando pretendo conhecer um determinado assunto, fazer um intensivo pela internet mesmo. Acompanhar os jogos da Heineken Cup na ESPN e a Copa do Mundo da Nova Zelândia também vieram em auxílio. Restava acompanhar em campo. Ano passado fui a um jogo da Copa RS onde o Farrapos perdeu para o Novo Hamburgo. Indiferente à derrota, o crime estava feito. De lá pra cá tenho acompanhado o esporte de forma vertiginosa, como um vício incontrolável, vício este que aos poucos vai consumindo a energia que eu dispendia acompanhando futebol e o Inter.

Farrapos x Charrua no campo da BM - 2012

Após a copa de 2011 começaram os rumores da Argentina se juntar ao Tri Nation, competição dos grandes do hemisfério sul disputada entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, e jogar contra eles algo previamente chamado Four Nations, mas que viria a ser Rugby Championship. Pois aconteceu. Quando saiu a tabela e o dia do jogo já pedi pra Betine marcar a parte das férias que faltavam pro fim de setembro. Eu tinha que assistir. Assistir Pumas x All Blacks seria como um Brasil x Itália de 1970. Impossível não querer estar lá. Comprei as entradas nos primeiros minutos do dia 7 de maio quando abriram as vendas pela internet. Estava feito. Não tinha mais volta. Quase cinco meses aguardando ansiosamente o grande dia.

Enquanto aguardava torci pelo tri inédito do Farrapos, acompanhei o Super10, os amistosos de fim da temporada europeia contra os países do sul, voltei a fazer musculação, correr e tentar voltar à forma física, nem que ainda seja a de um barril musculoso. Tudo isso é culpa de muitos fatores sendo que o principal deles é que o Rugby me fez acreditar em algo palpável, amizade e esporte, lutar pelos seus objetivos mantendo um código de honra e lealdade, quase um caminho do samurai (assistam Ghost Dog). Nada disso nasceu assim, do nada, foi um caminho que eu permiti se abrir na minha frente. Esse caminho teria que passar novamente por onde tudo começou: ARGENTINA.

Mas disso eu falo semana que vem na Parte Dois.

2 comentários:

Marreta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Franco Garibaldi disse...

Sensacional o relato, Marcelo. Assim como tu, cada vez mais meu ânimo para o futebol se esvai. Sigo no apoio ao Juventude, lá no blog, mais por ser o time de infância e não querer que o futebol do interior morra de vez do qua qualquer outra coisa. E, mesmo que ainda de forma não tão intensa como tu já conseguiu, abro cada vez mais espaço ao rugby, seja ele o XV, seven ou league. E lamento a cada dia não ter descoberto o esporte antes, tanto para acompanhar de longe como para pratica-lo. São as merdas de ter nascido num país monocultural...